Uma paciente me perguntou hoje: “como posso aceitar isso se não consigo entender por que isso está acontecendo?” A pergunta me fez pensar... Será que é possível aceitar algo que não conseguimos compreender? Ou será que são tarefas diferentes, independentes uma da outra? Diante de algo conflitante, seja uma perda repentina, um sentimento que acaba, uma decisão inesperada, temos sempre a tendência de procurar por um sentido, uma explicação para tudo aquilo. Como tudo pôde ter mudado tão rapidamente? Como em questão de segundos, minutos, dias, algo que parecia tão estável de repente se fez diferente? Como posso me antecipar a este tipo de surpresa, acontecimento, fatalidade?
Talvez o primeiro passo seja mesmo tentar entender, afinal a sabedoria requer conhecimento. Mas diante do fracasso de uma tentativa, se torna fundamental aceitar o não-entendimento. Afinal, o mundo é tão complexo, tão cheio de variáveis interdependentes, de ações e reações e mais reações, que fica difícil delimitar uma linearidade causal – o bom e velho fio da meada. Onde foi que tudo isso começou? Que decisões eu tomei ao longo da vida para chegar até aqui? Bom, em última análise tudo isto está acontecendo porque, em primeiro lugar, eu nasci, lá, 27 anos atrás. Então tudo isso deve estar acontecendo porque... a vida é assim? Uma confusão caótica de idas e vindas, decisões e escolhas e renúncias e caminhos intrincados e gente que aparece e escolhe, e renuncia, e trilhamos milhares de caminhos dentro de um só...?
Compreendemos tão pouco! Somos tão ignorantes no que se trata da compreensão da vida humana e da nossa existência! Talvez este seja o entendimento que devemos procurar, ao invés de nos fatigar em desvendar essa complexa teia que nos emaranha todos os dias. Aceitar o não-entendimento retira um peso enorme dos ombros, exercita a humildade e elimina a arrogância, além de aliviar o nosso fardo de ter que decidir corretamente, ter que agir corretamente, ter que fazer tudo corretamente. Errar é permitido, a perfeição não é mais esperada – como humanos bobinhos que somos, dentro do nosso desentendimento, talvez o que de mais correto possamos fazer é seguir o fluxo das coisas sem tanta auto-exigência, tendo a humildade e sabedoria de correr atrás do prejuízo quando percebemos nosso erro. Se vai dar pra consertar, são outros 500, mas a humildade, por si só, já é o bastante para entendermos o quanto, a bem da verdade, não entendemos praticamente coisa alguma...
2 comentários:
É por isso baby, por sermos bobinhos, ignorantes e orgulhosos, que muitas vezes adoto o lema "travel light". Aprendo isso com os animais. Acabam sendo intervalos da minha pressão sobre mim mesma.
É necessário racionalizar a respeito para se ganhar algum tipo de tranquilidade porque, no intuitivo, a sensação é de não aceitação pelo não entendimento.
Agora é a dissociação coração-cérebro.
Adorei o post.
Beijodaí.
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