Foi como um soco na cara. Aqueles rostos todos conhecidos, me sorrindo amarelo, como se dissessem “foi bom enquanto durou”. Uma multidão de gente estranha, com quem jamais me identifiquei, como que me consolando através do olhar. A porrada na cara de ser bem tratada pelos seus familiares, carregados de condescendência, carregados de empatia – a empatia que você não teve. Ali, no universo que uma vez foi apenas meu, também deixei que você adentrasse, sem no entanto receber o espaço mínimo necessário para fazer parte do seu dia-a-dia. O tapa no rosto é perceber que doei tudo aquilo que eu tinha, todos os meus espaços, todos os meus universos, sem ter deixado sequer uma lacuna no seu cotidiano, nem uma brecha que você procure preencher com falsos pensamentos de conformismo, nem uma fenda que te mostre hoje a falta que minha ausência te traz. Nada. Percebo hoje que sua vida tão plena, seus amigos sorridentes, sua família unida e feliz, todo seu universo uniformemente preenchido me reflete o rombo que no meu ficou quando te arranquei a duras penas do meu cotidiano. Esse rombo, sei que me pertence – mas a ausência da adrenalina na qual você é viciado, a falta do frisson inicial que qualquer relacionamento sofre com o passar do tempo, a maneira como você se entedia tão logo a novidade te deixe, é isso que hoje me traz a certeza de que foi melhor assim: sua vida pode ser completa demais para poder me acolher, mas ao mesmo tempo, eu sempre fui grande demais pra caber dentro de você.
nós e garganta
Há 12 anos
3 comentários:
Nossa que palavras fortes, a ausência e a perda decepcionam, mas podem fortalecer tb.
Preencha esta lacuna com voce mesma, pois, aí, está cheio de coisas boas que só voce mesma conhece e tem ciência.
Beijo.
Olha, confesso que tenho muito medo dessas pessoas aparentemente completas, plenamente preenchidas, sem qualquer espaço vazio que permita... o movimento! Aproveite suas lacunas, amiga! Transforme essa tristeza em energia para se mandar daí para uma bem melhor!!!
Beijos!
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