quarta-feira, abril 21, 2010

Inércia

Queria acordar e ver que tudo isso é um sonho, um sonho bizarro e mal-vindo. Mas o tempo congela quando não se tem o que esperar, e se torna preferível passá-lo dormindo. Tudo se torna pálido e lento, e é preciso procurar muito a fundo por um motivo verdadeiro de empenho. Procuro me desapegar do resultado e atentar ao processo, mas é duro quando este é um contínuo elaborar de perdas. De se lamber feridas.

Racionalizar, procurar alívio. Esta é a rotina. Buscar conforto na falsa idéia de que se tentou de tudo. O mundo inteiro parece uma festa para a qual eu não fui convidada, e fica cada vez mais incoerente que coisas tão complexas possam ter se defeito de maneira tão assombrosamente simples. Rápido, mas não indolor. Como um esparadrapo retirado de uma pele em carne-viva, sem preparo algum.

As saudades, estas já haviam. Mas a perda se torna estranhamente concreta quando tudo o que se ouve é o barulho ensurdecedor do silêncio – nada restou. Fluindo na densa maré da inércia, procuro aceitar o tempo pacientemente enquanto ele escoa dolorosamente por entre meus dedos. Os ponteiros dos relógios são apenas hastes finas, que observo correrem sem fim. Subitamente descubro, é isso: o tempo é o bem mas precioso que um ser humano poderia perder.

Nenhum comentário: