Nos últimos tempos, andei pregando por aí o meu gosto pela verdade.
Na minha vida, a honestidade e a total transparência têm sido indispensáveis, e funcionam mais ou menos como um norte a ser seguido: enquanto estou no caminho da verdade, sei que estou na direção correta.
As meias-verdades, muito mais do que as mentiras, me deixam um gosto amargo na boca. Antes de mais nada, considero as mentiras uma atitude de desrespeito com o próximo. No caso de meias-verdades, a situação é ainda pior: trata-se de uma tentativa de mascarar a realidade, de manipular seus elementos visando um benefício que não existiria de outra forma. Em muitos aspectos, considero as meias-verdades ainda mais terríveis do que as mentiras em seu estado bruto. Meias-verdades são o ápice da dissimulação.
Para meu desgosto, tenho percebido a dificuldade que as pessoas (ou pelo menos 99% delas) têm em lidar com a verdade. Não apenas em ouvir a verdade, mas em dizê-la. Tem gente que diz que é por tentar poupar o próximo de alguma coisa desagradável. Tem gente que diz que tem medo de magoar. Tem gente que até assume que tem medo de se dar mal.
Ter medo é algo absolutamente normal e totalmente compreensível: não é nada gostoso nem simples dar más notícias a alguém. O receio de magoar é genuíno – quando nos importamos, não queremos causar dor ao outro. Querer poupar alguém pode ser até bonito de se ver, mas além de ser um desrespeito ao direito da pessoa em conhecer a verdade, é um tanto quanto arrogante – quem disse que o outro não agüenta?
Apesar de equivocado, tudo isso é bastante compreensível, com exceção, penso eu, da justificativa no medo em se prejudicar.
A responsabilidade pelas próprias atitudes é algo que defendo com unhas e dentes, não apenas pelo senso de responsabilidade em si, mas também por acreditar que também merecemos o crédito pelas nossas conquistas. Isso é algo que martelo incessantemente para meus pacientes, acostumados a olhar somente suas falhas – responsabilidade pelos erros, mérito pelos acertos.
Responsabilidade indica, necessariamente, a noção de escolha – somos responsáveis, pois escolhemos aquilo. Tivemos opções e, conscientes que somos, optamos. Esta é a noção fundamental que acredito faltar na maioria das pessoas: todo mundo se considera vítima das circunstâncias, e não admitir a própria responsabilidade significa recair, necessariamente, em mentiras.
Faltar com a verdade ao outro devido ao medo nada mais é do que a dificuldade em assumir, para si mesmo, as próprias responsabilidades. É muito mais fácil culpar o mundo, o universo ou o Dalai Lama pela atitude tomada – reconhecer as próprias falhas requer, fatalmente, que se admita a própria imperfeição. Mentir ao outro é mentir a si mesmo, é não ter convicção plena de suas verdades, suas crenças e posturas. É assumir, absolutamente, que não acredita em si mesmo. É encarar a própria verdade como a maior das ofensas.
Falar a verdade é um gesto de amor e respeito pelo próximo, e é um ato de amor-próprio dos mais evidentes. Os verdadeiros honrados, os fortes de caráter, os maduros de espírito, assumem suas verdades sem se deixarem paralisar pelo medo, e sem sentirem pena de si mesmos: nada neste mundo é perfeito, e é justamente na nossa falha existência humana que encontramos as verdadeiras belezas da vida, assim como as dores e as delícias de ser quem se é.