sexta-feira, julho 03, 2009

Ou Tudo ou Nada?

Hoje na Mundo Mundano.


Todo mundo que gosta de escrever sabe: tem épocas em que simplesmente não sai. Sentamos na frente dos PCs, agarramos papel e caneta, praticamente fundimos a cabeça e o resultado continua o mesmo: a folha continua em branco, apesar da mente fervilhar em idéias.

Ando nestas fases. A coisa simplesmente não funciona. Antigamente, eu me sentia frustrada. Hoje em dia, me pego atenta a estes momentos e percebo coisas impressionantes em meio a este vazio. Pouco a pouco, reflexão a reflexão, começo a chegar à conclusão de que é justamente no vazio que tenho a maior sensação de plenitude que eu poderia experimentar.

Essa idéia do “vazio-e-cheio” sempre me encantou. É verdade que eu costumava me sentir desconfortável com a idéia do Nada, enquanto que o Tudo me acolhia. Afinal, sempre ouvimos por aí que o legal é ter tudo, que não ter nada é ser mal-sucedido. Somos condicionados a ter a mentalidade do mais, da ação, da quantidade, do preenchimento. O nada, o menos, a não-ação, o menor parecem sempre negativos. Com mais freqüência do que talvez eu gostaria, ouço meus pacientes dizerem-se “no nada”, ou “vazios”, com a maior das aflições.

Mas a verdade é que existe neste “nada” uma idéia reconfortante e capaz de amenizar estas angústias: se o que existe é o Nada, então Tudo pode ser feito. Qualquer coisa! É uma idéia bastante lógica, embora possa ser difícil apreender este conceito num primeiro momento: menos pode, de fato, ser mais.

A idéia da página em branco possibilita uma imagem – uma folha em branco é ilimitada e infinita, e milhares e milhares de possibilidades de escrita, desenhos, garranchos ali estão em potencial. Se quando temos Tudo, o vazio está plenamente preenchido, fato é que Nada mais pode ser feito – a folha está escrita, a pauta está fechada, esgotaram-se as linhas. É aquilo ali e pronto, aquele tudo, completo, cheio, limitado te dizendo: “conforme-se”.

Já o nada é o espaço em potencial necessário para todas as realizações tomarem forma; são todas as coisas existindo ao mesmo tempo, indefinidas, inexatas. A vantagem de não se ter nada é justamente poder começar tudo de novo, ilimitadamente, sem nenhum tipo de restrição. Como num vaso vazio, onde em sua terra fértil podem ser plantados quaisquer tipos de sementes.

É verdade que estar no nada pode ser, a princípio, bastante desconfortável e desolador, e que se pode experimentar alguma sensação de perda de referencial. Mas se for possível tolerar o sentimento de ansiedade e visualizar, em meio à crise, uma nova oportunidade, então também haverá a chance de experimentar, como de nenhuma outra maneira seria possível, toda possibilidade de escolha – e esse tipo de escolha é exatamente o que define alguém, a escolha de quem não tem absolutamente nada a perder. É a escolha da liberdade.

No que se refere a este texto, experimento uma certa mistura de sentimentos após ver esboçada a reflexão. É que uma parte de mim gosta de ver a página finalmente cheia, mas outra se ressente com a minha ousadia de encerrar assim a questão, limitando o tema como se nada mais houvesse a dizer. Minha mente continua a fervilhar a respeito, e receio que o assunto seja muito mais extenso, filosófico e pirante do que aqui humildemente tencionei expressar. Tento então mostrar alguma humildade, mas também manter a ousadia de com o fim do texto questionar se, afinal de contas, todo fim também não seria um recomeço...

3 comentários:

Leonardo disse...

De clique em clique acabei parando aqui. Gostei muito do seu blog. Parabéns! Vou seguir!

O post com os patos é demais! "Hiato" também me disse muito.

Beijo e bom final de semana!

raul bele disse...

nana...
a cuspide fraterna que nos pressiona transbordar coisas e fatos nem sempre tem o tempo que as paginas e dias de blog precisam. viva intensamente, faca sem remédio o que sua propria indole lhe traga. é isso que te faz viva e propria pra seguir transcendendo a cerca do normal e
comum... e isso que te faz viva e pronta para transboradar outra vez...

o tamanho do copo sempre conta muito... mas o tipo de liquido e o que faz a diferenca....

sua verdade me contagia!

bj

Ana disse...

Eu também convivo com o NADA e confesso que até ler esse texto ele me assustava. Vamos ver se consigo achá-lo bom. Prometo tentar.
O que me aflige na verdade é que minhas melhores ideias, geralmente eclodem quando estou naquele momento em que seu corpo entra no modo "dormir". Daí dá a maior preguiça de pegar o bloco de notas que fica no criado-mudo e registrar o brainstorm que acabou de rolar. Quando inventarem um gravador de cérebro, me avisa? rs
beijos e adorei o post!