quarta-feira, outubro 25, 2006

Desentendendo

Entender, entender, entender, entender.

Bah! Por que sempre tenho que entender tudo?
Eu tenho que entender tanta coisa que chego a ficar cansada.

Eu tenho que entender que cada um é de um jeito. Que as intenções sempre são boas. Que se eu estivesse no lugar da pessoa, talvez fizesse igual.
Entender que ele estava nervoso. Que ela é assim e pronto. Que é 50% do meu sangue. Que agora sou adulta. Que o Brasil não tem jeito. Que a viagem foi cancelada. Que a loja estava fechada. Que ele passa por muita coisa, e que por isso é assim.
Entender que agora eu tenho um diploma, e por isso tenho responsabilidades. Que cada um tem seu limite. Que o que eu penso não se aplica na realidade. Que minha mãe ainda está muito magoada. Que ela nunca vai voltar a falar com meu pai.
Entender que ter um filho aos 61 anos de idade é diferente, ainda mais se ele for homem. Entender que a criança não tem culpa de nada. E que ela deve receber amor.
Entender que "é difícil!". Entender que a culpa também é minha! Que eu não devia ter participado. Entender que a "penitência" também é minha, por consequência. Que não era a hora.
Que nunca é a hora. Entender que não é meu momento. Entender que a vida não é justa. Que nem todo mundo teve estudo, e que por isso tem tanta gente ignorante.
Entender que a maturidade vem com o tempo e não quando a gente quer que venha.
Entender que não importa o quanto a gente se importa, certas pessoas simplesmente não se importam.
Entender que a vida é assim, que as pessoas são assim, que todos têm dificuldades emocionais. Que todo mundo se descontrola de vez em quando. Que a 4ª negativa de fato enche o saco. Que não se pode ter tudo, mas que ter nada é bem pior.
Entender os sentimentos alheios. E os da Naninha também, e do queridinho também, e da querida também-também.
Entender que assim é mais fácil, mas às vezes se torna difícil. Entender que aconteceu, e não foi porque eu quis. Que eu fui vítima, não algoz. Que isso também já aconteceu com milhares de pessoas no mundo, e que muitas superaram. Entender que só depende de mim superar uma violência.
Entender que tudo só depende de mim.

Eu entendo que seja assim. Mas também queria que me entendessem de vez em quando.

Que entendam que eu não sou bem o que pareço ser, e que tenho segredos. Que sou emocionalmente perturbada. Que sou muito mais frágil do que pareço ser.
Que eu choro de noite, com dó de mim. Que 5 minutos depois dou risada de mim mesma porque me acho patética. Que minhas depressões vão e vêm num intervalo de no máximo uma semana entre uma e outra. Mas que sou uma ótima atriz.
É tão difícil assim entender que minha parte criança traz uma nódoa dentro de si? Que ela foi maculada há muito muito tempo atrás?
Queria que entendessem que não sou assim porque quero. Sou assim porque não consigo ser diferente. Porque por mais que eu tente nunca é suficiente, sempre acabo morrendo na praia. Sempre acabo implorando por um pouquinho de afeto, de amor, de atenção, mas quando isso vem, está sempre manchado, sempre contaminado, sempre envelhecido.

Sou uma criança que só pede por um pouco de entendimento, por um pouco de compaixão, um pouco de solidariedade. Que me deixem quietinha em paz, no meu canto, sem cobranças, sem demandas, sem lições de moral. Sem dizerem "eu te entendo" sem nunca jamais terem entendido. Que respeitem minhas cicatrizes, que não as cutuquem com falsas promessas de cura. Eu sou assim, e serei assim sempre. Me aceitem da maneira que sou, aceitem meus conflitos, minhas neuroses, minhas dores e mágoas, minhas idiossincrasias que, entendo, são um pouco difíceis de entender às vezes. No fundo ainda acho que tenho condições de superar, de evoluir, de transmutar... só preciso de um pouco de entendimento. De acolhimento.

Entende?

Um comentário:

N. Ferreira disse...

I know you do, sweetheart...