quinta-feira, dezembro 02, 2010

Pagando pra ver

Cansei de brincar com coisa séria, e de levar a sério demais o que é simples brincadeira. Nesta vida existem vários pesos e várias medidas e já faz tempo que não consigo mais ser absoluta em nada do que eu digo. Mania essa de relativizar. Mas como dizem por aí, é caminhando que se faz o caminho, e a viagem só vale a pena se o processo também valer. Já não quero me arrastar por aí sem ter foco no futuro, nem ficar tão de olho no futuro que me perca do presente. É sempre esse, o desafio de balancear. Não transformar o remédio em veneno, não errar na dose do equilíbrio que se torna tão estável que fica monótono. O que quero não é a paz serena de ser pacata cidadã eternamente, quero a paz do valer a pena, a paz da recompensa e da consciência tranqüila, a paz de uma partida que paga o preço mínimo dos lances, seja você ganhador, seja você o último da fila. Não existe essa de jogar a toalha sem sequer ter começado a partida, resolvi abrir a guarda e fazer minhas apostas, guardei comigo aqui algumas fichas, estou jogando alto mas tô pagando pra ver.

segunda-feira, novembro 08, 2010

comida, cuidado, amor

Como herança de uma família de italianos e portugueses, adquiri nos últimos anos o gosto pela cozinha. Avessa às artes culinárias por puro preconceito feminista, foi uma deliciosa surpresa entrar em contato com as magias do criar, cozinhar, alimentar.

Comida é símbolo de afeto. Desde cedo o bebê recebe os seios de sua mãe e o leite dele proveniente como fonte inquestionável de amor e segurança. Ora, por que com os adultos seria tão diferente? Alimentar sua família, servir os amigos, não seria um ato igualmente afetivo, amoroso, de cuidar de quem se ama?

Nos últimos tempos, descobri meu amor pelos antepastos. Roubando dicas aqui, acrescentando coisas ali, dando vazão ao puro feeling gastronômico, fui criando um cardápio humilde porém cuidadoso de receitas fáceis e charmosinhas. E qual não foi o encanto de descobrir que, para a família e amigos, o momento da cozinha era um programa especial, Dia de Cozinhar.

Na minha casa todos sempre cozinhavam e eu ficava de fora, vendo TV ou no máximo lavando pratos. Foi maravilhoso finalmente me incluir nas tarefas culinárias e descobrir o prazer de ver o alho, picado com carinho, se juntar ao fio de azeite cuidadosamente despejado na panela de inox. A voz de meu pai me vem imediatamente à memória: “Todo bom prato, filha, começa com alho, azeite e cebola num fundo de panela”. Está certo pai - o cheiro contamina o ambiente; bocas salivam, olhos pulsam ao ver os tomates, cebolas e temperos serem unidos num abraço gastronômico. A fatia do pão italiano serve de leito à mistura simples e honesta, formando uma bruschetta ao pomodoro das mais caseiras. A folha de manjericão é um ornamento aos olhos: hora de se deleitar.

Com o passar do tempo, fui ganhando segurança. Nunca soube usar o sal, visto que vivo numa família de hipertensos. Como flexibilizar o paladar e agradar a todos? Pura arte humana de se relacionar! Uma experiência aqui, outra ali, o saleiro na mesa garante a segurança da situação. Tem pra todos. Afinal, nem sempre o que está sendo levado em conta é o sabor em si, mas arte do processo, da criação, das descobertas de um novo tempero ou da habilidade incrível de uma amiga de cortar rapidamente os ingredientes: criação coletiva porém liderada, assim é o cozinhar amoroso que une a fome, a vontade de comer e o desejo de cuidar, com delicadeza, dos desejos alheios.

Bruschettas, molhos, pastas. Símbolos de afeto que pouco têm a ver com comida. Iniciante na gastronomia, porém veterana do amor, entrei em um dilema sobre em qual seção este texto melhor se encaixaria. Pura formalidade, como a separação e ordenação dos pratos de uma refeição. Na dúvida, resolvi por priorizar o concreto, a comida em si – não fosse isso, serviria de bom grado meu coração numa bandeja, totalmente imerso num fio de carinho e pedaços de consideração.

sábado, outubro 23, 2010

ressaca de você

Dentre todos aqueles rostos na multidão, só o seu estava realmente em foco. No meu foco. Ali, na fila dos livros, te vi nervoso, esperando para ter meus textos em mãos. Os textos em que me apoiei ao precisar te esquecer. Sempre achei que fosse força de expressão, mas fiquei completamente zonza ao sentir seu cheiro naquele abraço longo que tardou a acontecer. Nossos olhos se comunicaram sem que ninguém percebesse o que ali acontecia: a troca, a comunhão, os corações que se reaproximaram. Um ano e meio não bastou longe de você, minha boca secou como sempre secava, meu coração falhou uma, duas vezes, só voltou a bater quando por fim nos separamos. Quis te falar milhares de coisas. Aos homens com quem tenho andando, já disse tudo que interessava. Eles já sabem tudo o que é preciso saber: sou mulher, estou disponível, sinto tesão quando me tocam aqui ou ali. Isso deveria bastar. Mas pra você quero contar o que sonhei essa noite, quero mostrar o sapato que comprei, quero ler aquele artigo enquanto você toma seu banho, quero te contar uma sessão difícil que tive hoje. Você iria entender. Não te disse nada destas coisas, me contentei em contar as novidades, fingi uma naturalidade que jamais me pertenceu quando estive ao seu lado. Seu cheiro me intoxicou, fiquei bêbada de saudades, enchi a cara com vontades, dei PT com o coração. Amarguei essa ressaca na boca de outra pessoa, fantasiando suas artes médicas curando minha alma obcecada por você. O que te disse um dia ainda está valendo, meu coração continua sendo seu, meu corpo implora pra novamente te ter, mas minha honra está selada – a nossa porta não está trancada, nossas possibilidades continuam encostadas, mas elas têm uma senha, você já sabe qual é.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Jogos na terceira idade




Semana passada, fui dar um role na Argentina e visitar uma amigona minha em Buenos Aires. E embora a viagem tenha sido muito boa, não, este post não é para contar as minhas desventuras pelas calles argentinas. Esse post é pra falar de algo triste: a solidão da velhice.

Fomos num Casino lindo em Puerto Madero. A idéia era tirar onda. Enfiamos nas maquininhas 2 pesos cada uma (cerca de 1 real), só pra puxar a alavanquinha e ver as figurinhas rodarem. Perdi meus pesos em menos de 10 segundos, mas eis que ouvi um som de moedinhas caindo na maquina do lado. Não, não foi sorte das amigas.

Uma senhorinha, toda enrugadinha e usando óculos, ganhava vários pesos e juntava as moedinhas. A princípio sorri, feliz pela sorte dela, até ver o maço de notas que ela tirou do bolso pra novamente enfiar na maquininha. Era óbvio que aquele mulher estava perdendo mais do que ganhando.

De repente parei pra observar o salão no qual estávamos e o que vi me chocou. Monte e montes de velhinhos, como os que eu via entrar no Bingo Angélica quando este ainda existia e o jogo era permitido no Brasil, sozinhos em suas maquininhas, vendo as figuras rodarem e enfiando notinhas no lugar indicado. As alavancas eram puxadas sistematicamente, as moedinhas enfiadas compulsivamente, os olhares apáticos vidrados no visor: BAR, BAR, BAR. Dias depois, visitamos outra casa de jogos em Tigre e a cena se repetia.

Fiquei deprimida com a cena. Não é que eram grupos de velhinhos se divertindo juntos. Eram indivíduos, solitários, gastando suas economias ou aposentadorias, com rostos longe de parecerem felizes, funcionando no piloto automático. A mais pura ausência de vida humana, o retrato mais fiel da solidão de quem não encontra mais lazer na vida social, nas relações humanas, e se ensimesma no vício atordoante de ouvir o tilintar das moedinhas.

Cadê a família dessa gente? Cadê os filhos destes pais? Onde estão seus amigos?

Fiquei pensando na falta de iniciativas sociais que incluam a terceira idade ou que pelo menos prestem atenção neste setor da sociedade que está sofrendo a falta de reforçadores intrínseca ao envelhecimento. Cadê os programas destinados aos idosos? Os Centros de Convivência? As facilidades culturais?

Parece que a Argentina, na qual o jogo ainda é permitido, acha mais fácil empurrar os velhinhos pra dentro destas casas sem janelas onde o tempo não corre. É mais fácil do que criar alternativas criativas e saudáveis, o velhinho ali dnetro não enche o saco de ninguém, nem da família, nem do Estado, e deixa as calças ali.

Acho que Serra e Dilma, qualquer que fosse, ganhariam uma eleitora de abordassem esse tipo de questão. O que vi naquele Casino só me fez decidir uma coisa: cultivar a família, as amizades, e se todos morrerem antes de mim, é melhor tratar de descolar um bom e saudável hobby solitário.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Sexo, drogas & balada no Morumbi

Quem me conhece sabe que eu sou uma das pessoas mais ditas “certinhas” que há. Não pego troco errado, não furo fila de cinema, não roubo jogando tranca, dificilmente passo em sinal vermelho. Também não sou muito de festinhas nem sou chegada a drogas. Isso não significa, claro, que eu jamais tenha fumado um baseado nem enchido a cara, mas é fato que minha personalidade não é exatamente do tipo viajandão, extrovertida, sexo subversivo. E é claro que sendo assim, nos dias de hoje muita coisa me espanta e até me desagrada.

Dia desses, fui parar numa festinha. De galera conhecida, a festa é produzida por um cara conhecido do meio musical, e reúne mais ou menos sempre as mesmas pessoas. Então fui lá, achando que a festa ia ser sussa como os forrós que costumo freqüentar. A festa foi numa casa linda lá no Morumbi, cheia de gente bonita e arrumadinha, mas assim num estilo informal. E eu, como sempre, pairei na posição de observadora durante um bom tempo (tempo suficiente pra me divertir e ao mesmo tempo me desanimar).

Eu já comentei por aqui que fico impressionada de ver como as pessoas parecem viver pro final de semana. Mais ou menos como se elas segurassem a onda a semana inteira pra então extravasar no sábado a noite, vivendo o restinho de vida que o dia a dia lhes permite. É claro que isso é produto de viver uma vida insatisfatória, pra mim isso é bem claro: de segunda a sexta se sobrevive; de sexta a domingo a vida acontece de verdade. Escolhas à parte, independente do que eu ache a respeito, é fato que 90% das pessoas naquela festinha estavam tentando viver a vida como se não houvesse amanhã, ficando muito loucas, falando baixaria a maior parte do tempo e se detonando com vários tipos de drogas.

Tendo tomado umas cervejinhas, fui amargar na fila do banheiro. Depois de mais de 20 minutos esperando, me sai uma turminha farinhenta de dentro do banheiro apertadinho. Que fique claro: cada um que meta o nariz onde quiser, mas quando eu fico contorcendo a bexiga porque tem gente cafungando em vez de fazer xixi, aí eu começo a me invocar.

E essas pessoas, à base de birita e de farinha (e maconha igual cigarro), carregaram o ar da festinha com uma libido sem tamanho. A cada duas frases, uma era do naipe “comer fulana”, “chupar meu pau”, “enquadrar a gostosa” e congêneres. Um tal de fulano dando em cima da fulana, que tava ficando com sicrano, que veio dar em cima de mim a despeito de eu estar batendo papo com beltrano. Meio que uma filosofia Woodstock de “vamos foder e amar, somos todos espíritos livres”.

Diálogo testemunhado:
- Quero ver Comer Rezar Amar.
- Vamos abolir o segundo verbo. Aliás Comer e Amar não dá na mesma?
- Hahahahahhahaha.

Participei de um mínimo de conversas bacanas (que dada a véspera eleitoral, era basicamente sobre as eleições). O que salvou a noite foi um encontro especialíssimo com alguém que eu não encontrava há 10 anos e por quem sinto um carinho infinito e sobre quem guardo ótimas memórias. Papo inteligente, interessante, de verdade, que me fez ficar na baladinha até o dia clarear. Mas o simples fato de estar rodeada de gente limitada, adicta e sexualmente invasivas me bodiou até os ossos. Ouvir os papos vazios e as investidas sexuais a cada 5 minutos arrepiou meus cabelos e desagradou os ouvidos – jogaria 90% de todo o conteúdo escutado no lixo sem dó nem piedade.

O mais difícil foi ver meus próprios amigos partilhando destes comportamentos – falando bosta, se insinuando vulgarmente, enchendo a lata e dando bafão. Mulher bonita empinando o peito e dizendo que vai dar uma de biscate; homem inteligente (?) dizendo “eu vou é pegar geral”, turminha de bizarros dando murro na janela de um quarto onde dormiam meninas meio bêbadas (argumento: “vai dormir em casa!” Ainda paguei de chatona pedindo pra deixar as meninas dormirem, era melhor do que irem pra casa dirigindo naquele estado).

Juro por Deus, no próximo sábado à noite desligo o celular ou faço um Dia de Sofá, esquento a cadeira montando meu quebra-cabeças lindo do Taj Mahal que tá ficando sensacional. Ou, no máximo, ligo praquele carinha, pra tomar um café e bater um papo num lugar que tenha, no mínimo, um banheiro livre de cocaína. Ah, e com libido opcional.

quarta-feira, setembro 08, 2010

(des)equilíbrio

De vez em quando eu sinto vontade de gritar. Gritar assim bem alto, que é pro mundo inteiro perceber que alguma coisa ainda acontece aqui dentro. Mas sendo de raiva, alegria, tristeza ou inconformismo, eu me contenho bem a tempo de só gemer bem baixinho, às vezes em forma de risinhos ridículos para comemorar grandes feitos, às vezes apenas um sorriso para oficializar a serenidade, vez em quando um suspiro de resignação, um bufo de raiva perfeitamente controlada. Era pra ser assim? O equilíbrio então é isso? Não ser frio, nem mesmo quente, ser morno a ponto de realmente quase vomitar? Eu, que sempre defendi os meios-termos, o bom-senso e os tons de cinza, assim num quê de solicitude, acabei por me conformar em não celebrar as grandes conquistas, nem espernear os grandes revezes. Como me disseram uma vez, o certo talvez seja ser egoísta: me refestelar em banquetes, nem aí para quem passa fome; sofrer minhas agruras como se fossem as piores sobre a face do planeta; me sentir a pessoa mais importante não apenas do meu universo, mas de todos os existentes – tudo isso sob o falso pretexto do altruísmo: eu mesma feliz ajuda o mundo a ser feliz. Talvez seja simplesmente saudade dos dramas, talvez seja minha dificuldade de ficar em paz com a paz, talvez seja só a vontade de gritar que se tem de dominar a partir da meia-noite, embora eu o faça sempre. Pode ser simplesmente vontade de viver intensamente, mas hoje, e somente por hoje, eu tenho que admitir: esse coisa de equilíbrio nunca durou muito pra mim. Me sinto apenas e tão somente uma versão entendiante de mim mesma.

terça-feira, setembro 07, 2010

Mudando

É preciso ter muito cuidado quando se tem o ilusório desejo de mudar o passado.

É preciso lembrar: muda-se uma única coisa, e todo o resto também será modificado.

Algumas coisa devem simplesmente permanecer como estão...

sábado, agosto 21, 2010

Suicídio

Hoje, ao chegar em casa de uma noite deliciosa na companhia de uma grande amiga, me deparei com policiais e carros de resgate na frente do meu prédio. Imaginei ser coisa boba. Um gato preso na árvore, uma árvore caindo na rua, a rua inundada por algum cano d'água. Acontecimentos banais do cotidiano. Perguntei ao oficial, como quem não quer nada, o que havia acontecido. Deu pra ver o constrangimento e o desconforto estampado na cara dele quando me respondeu: "Uma senhora do seu prédio se jogou da janela".

Uma onda elétrica percorreu meu corpo como se tivesse sido atingida por uma pedra. "Quem?", perguntei ao porteiro. "Dona Fulana, do 174".

Subi até meu apartamento, 3 andares abaixo do dela, em completo estado de choque. E uma tristeza profunda atravessou meu peito quando me dei conta de que sequer sabia quem era a finada moradora.

Os vizinhos dizem que era uma senhora acometida de terrível depressão. Já tentara o suicídio outras vezes, já estivera internada outras tantas. E nada, nem ninguém, pode demovê-la de acabar com seu sofrimento à própria maneira.

Sentei na cama e chorei, abraçada à minha mãe, assolada por uma enorme culpa por não saber quem era Dona Fulana, por não ter tido a chance de ajudá-la. Senti raiva de quem a deixou sozinha, deprimida, solitária até em seus momentos finais. Senti raiva dela própria, por ter deixado tanta gente triste pela sua morte. Mas não ousei julgar a validade da sua atitude.

Fiquei pensando na proporção do desespero que deve existir para levar alguém a causar a própria morte. O grau de sofrimento deste ser, a falta de perspectiva, a assustadora falta de possibilidades. A completa ausência de alternativas que não por fim à própria existência, a única forma de se aliviar a dor.

Por que me afetou tanto a morte da Dona Fulana? Por que é que sinto como se fosse minha própria família? Será que andamos tão ensimesmados, entocados em nossas próprias covas, alheio a tudo e a todos, que não sabemos sequer que um ser próximo está em profundo sofrimento? Morando empilhados uns em cima dos outros, sem saber o que acontece na existência de pessoas 3 andares acima de nós? Essas pessoas que andam, dormem e sentam em cima de nossas cabeças todos os dias, e nada sabemos delas? Se são felizes, se são serial killers, pedófilos, noivos, cancerosos, suicidas?

Será que o que me entristece tanto é que me vejo refletida dentro desta velha senhora, por ter pensado vezes a fio num final trágico como o dela, em momentos de tristeza profunda e de rancor sem igual?

Enquanto procuro compreender os mistérios por detrás de todo suicídio, me afasto para sempre das fantasias sobre o meu próprio, rezando a Deus para que perdoe Dona Fulana por tamanha desgraça. Que seus parentes não se assolem pela culpa que eu mesma sinto por não poder fazer quase nada por quase ninguém, por ter que me conformar que este mundo tão bonito carrega existências não tão felizes e prósperas quanto a minha.

Que de hoje em diante eu conheça mais meus vizinhos e entenda melhor a dor de todos - é a minha própria, estampada nos olhos de um cadáver, a me fazer agradecer por cada sorriso que ainda darei, a partir de hoje e para o resto da minha vida.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Paz



Eu tenho andado tão calma, tão pacífica, que mal tenho sentido o tempo passar. E cheguei num ponto tão estranho que já nem sei dizer se essa passagem veloz do tempo é boa ou ruim.

Porque os dias vão passando numa calmaria tão atípica que o dia acabar é bom, começar o próximo também, dormir é gostoso e acordar também, trabalhar é ótimo e ter folga idem, sair de casa é tudo e ficar na toca é uma delícia.

E tudo isso por ter simplesmente passado a aceitar a vida e todas as coisas que a fazem ser o que é, como realmente são. Boas e ruins. Calmas e turbulentas. Difíceis e fáceis. Tudo ao mesmo tempo.

Coisa doida é viver. Coisa boa essa que chamam de existência. Demorei pra descobrir o que era tão óbvio: a paz e a felicidade estão dentro da gente. Ser feliz é simplesmente uma questão de ponto de vista.

sábado, agosto 14, 2010

Saudade eterna de você

Para F.

Quando penso em você
Meu olhar se enche d’água
Não tenho um pingo de mágoa
É só saudade da boa

E fica na lembrança de um beijo
Do abraço que ninguém me deu igual
Da noite que valeu por todas que vivi
O tempo foi passando e eu fiquei
Por todos os amores onde andei
Tentei mas nunca deu pra esquecer de ti

Ai, ai meu coração
Que passa dia, mês e ano e não consigo te esquecer
Ai, ai meu coração
Ainda bate apaixonado com saudade de você...


(Accioly Neto)

terça-feira, agosto 10, 2010

Saudades de Shangahi!


Shanghai Sisters: souvenir no Dragon Boat.


Com a volta eminente de minha irmã ao Brasil, faltando apenas 20 dias para que estejamos juntas novamente, tenho sido invadida por memórias de Shanghai. Não foi simplesmente o fato de ver minha irmã novamente, mas foi como nos divertimos juntas, como fazíamos antes de todas as responsabilidades tomarem conta de nosso cotidiano.

Logo que cheguei a Shanghai, no Aeroporto Internacional de Pudong, o chororô já começou. Em parte, por ver minha irmã, em parte pela emoção de estar literalmente do outro lado do mundo! De pequena que me achava para viagens dessa magnitude, de repente me senti super cidadã do mundo, descobrindo o que nosso gigante Planeta Terra tem a nos mostrar.

Sabrina e Xuxu: carregadores oficias de malas!


Ao encontrar minha irmã, me senti novamente com 17 anos de idade, quando nos divertíamos tanto que mal sobrava espaço pros dramas do dia-a-dia. A sintonia estava fina e o cenário absolutamente inovador dava conta de me deixar 100% ligada o tempo todo, com energia e alegria suficientes pra viver os próximos 5 dias com plenitude!

Logo que cheguei, as primeiras maravilhas de Shanghai já me foram apresentadas: o Maglev, famoso trem-bala que anda a 430km/h e que flutua a 15cm do solo, foi o que me conduziu a Puxi, onde minha irmã mora. E uma vez chegando no dorm onde moraria pela próxima semana, eu mal poderia imaginar quanta coisa boa me aguardava.

Mag-leeev, mag-leeeev!



Logo na primeira noite já fui apresentada a pessoas maravilhosas, especialmente o Rapha e Lincon, parceirões de primeira que me conquistaram de imediato. De cara fizemos uma balada incrível, num navio maravilhoso, onde fui apresentada a quase toda a comunidade brasileira de Shanghai.

São muitas as lembranças desse período incrível, o metrô de Shanghai com suas 13 linhas gigantescas, a Expo Mundial onde honramos nossos ancestrais no pavilhão da Lituânia e onde nos emocionamos no pavilhão brasileiro, nas ruazinhas fofas e amontoadas do Bund, a paz do Yu Yu Garden, o palácio do antigo imperador, a cervejinha em happy-hour na Hong Mei Lu com panyo Lincon, o Simple Thai com a Ju, o Latina, restaurante brasileiro onde matei a fome de picanha mal-passada e pão de queijo, a Nanjin Lu abarrotada de gente, o Jaddhe Buddha Temple, o Rio Pudong, o "cafezinho" hilário na casa do Rapha.

Panyo em plena Old City!



Rapha, aliás, que me encantou e que lamento tanto morar tão longe. Que coisa esse destino, que traz pessoas especiais mas as mantém longe da gente. Tinha que morar na China? Não, eu não podia voltar com esse nível de dilema na cabeça...

Os dias passaram voando, em meio a passeios, festas, massagens nos pés à uma da manhã, em meio ao Gucci Cafei com Sabrina e Xuxu (thanks man!), e principalmente em meio a conversas longas e profundas com minha irmã... e também conversas que não aconteceram, simplesmente porque não precisaram acontecer, dada a intensidade da comunicação pelo olhar.


Para Vó Vera: viva a Lituânia!


Maravilhoso resgatar a sensação de afinidade e de conforto quando se está junto aos seus. Quando se pode ficar confortavelmente em silêncio enquanto se sente completa, plena. Descobri, da melhor maneira possível, que minha vida nunca estará completa se minha irmã não estiver nela, ativamente, presente de corpo e alma. Alma: tenho certeza que as nossas já se conheciam antes dessa vida. Talvez sejamos nossas próprias almas gêmeas, e devemos parar de ficar procurando por aí o que já temos tão perto de nós.



Huang Pu River: o famoso Rio Amarelo.


Voltar ao Brasil, me despedir das pessoas, das ruas, dos chineses, doeu mais do que eu imaginava. Mas foi bom ter conseguido voltar para casa com a certeza de que eu já sei exatamente com quem, como e onde devo estar: é no lugar em que nossos corações escolhem para se sentirem verdadeiramente em casa, com pessoas que realmente te acrescentam, descobrindo as maravilhas de um mundo tão gigante.

Incrível, isso de ter que ir para o outro lado do mundo para descobrir algo que estava debaixo do meu nariz: já tenho tudo o que possuo para ser feliz, enquanto eu tiver o bem mais precioso e insubstituível – amor-próprio, e meu coração aberto.


Rapha, eu, Lincon e Ire: saudades eternas de momentos inesquecíveis! Thanks guys!

Gambei!

quarta-feira, julho 28, 2010

Contato

Tem sido muito difícil colocar em palavras o que venho sentindo. Afora a vontade de descrever como foram aqueles 28 dias idílicos em que viajei por aí, tenho sentido uma necessidade urgente de escrever sobre meus sentimentos, mas as palavras, surpreendentemente, não têm me ocorrido.

Acho que as palavras poderiam chegar a definir o meu interior, mas também limitariam essencialmente a intensidade e a força dos meus sentimentos. Então, tenho basicamente sentido. Tenho passado muito tempo sozinha, o que hoje, graças a Deus e a uma série de fatores, tem sido uma coisa agradável. Já não me sinto triste, ou sequer raivosa, com a pessoa que sou, como vinha me sentindo antes de viajar. Na verdade, tenho sentido quase que uma gratidão por tudo o que vivi ter me colocado novamente em contato comigo mesma, essa Eu de verdade que tem se formado ao longo dos anos.

Não acho que cheguei onde queria chegar – conseguir me enxergar como realmente sou e no que venho me tornando conforme as mudanças acontecem. Mas acredito estar me vendo com olhos mais suaves, sem tanta pressão em ser o que acredito que deveria ser, em fazer o que é esperado, em ser bem-sucedida, rica ou reconhecida. O engraçado é que, de repente, o que pareço ser perdeu completamente o sentido, ao mesmo tempo em que o que verdadeiramente sou não aparece muito nitidamente por entre esta névoa diante dos meus olhos.

Mas talvez o mais bonito disso tudo seja que, com bastante simplicidade, finalmente consegui entender que o importante da vida é ter essencialmente a leveza dentro de si, é ter momentos agradáveis com as pessoas que amamos, é estar em harmonia e sem conflitos dentro e fora. É ser simpática com a moça da padaria, é tratar bem o manobrista do shopping, é rir da piada do porteiro. Reconheci que não preciso sempre da profundidade, mas que esta também não deve se manter por muito tempo longe das minhas vistas.

Talvez ser feliz seja muito mais fácil do que parece – talvez baste jamais perder este contato delicioso que se tem consigo mesmo quando, pura e simplesmente, sentimos amor por nós mesmos.

quarta-feira, julho 21, 2010

Tamally Maak



É com o coração apertado e com os olhos querendo vazar que hoje escrevo estas linhas. Impossível converter em palavras tantos sentimentos, tantas saudades, tantas vivências. São sons, cheiros e fotos que despertam em mim sentimentos que nunca antes experienciei, como a saudade da sensação de familiaridade inexplicável que senti em terras egípcias.

Quase como se eu já tivesse passado por lá, quase como se estivesse voltando pra casa. A novidade, misturada ao conforto. Estar à vontade num lugar absolutamente estranho, e nem por isso menos conhecido. Os cheiros não me importavam, o trânsito não me aborrecia. O calor castigando a pele e apesar disso, se sentir renovada. A areia entrando nos olhos e você não se importar de fechá-los. Uma língua estranha soando surpreendentemente bonita aos ouvidos.

Estar de volta chega a ser dolorido, não pelo retorno à realidade, mas pela impossibilidade de construir esta realidade num novo cenário. A utopia da união de uma vida amada em terras brasileiras, com a magia e as sensações das terras desérticas. Me revolta pensar que tantos acreditam que somos tão diferentes, ocidentais e orientais, sem enxergar a beleza das nossas semelhanças. A maravilha das nossas mesmas origens, nossas crenças tão parecidas, nosso amor ao próximo expresso de maneiras tão singulares, e ao mesmo tempo, exatamente as mesmas.

Estar no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas – acho que isso é plenitude. Perceber a existência como algo tão divino, tão absurdamente lindo, que todos os problemas se tornam insignificantes. O toque dos derbaks e dos snujs, os chamados dos minaretes, tudo isso se torna tão maior, que tenho certeza que este sentimento se chama amor.

Hoje tenho certeza – meu coração ficou no deserto, e minha alma no fundo do Nilo. Tamally Maak, sempre com você. Quero voltar e nunca mais partir, quero viver em meio a Ahmeds, Mohammeds, Bassams, Mostafas... quero não mais ser Aziza, sequer Ana ou Paula, mas apenas Ser, ser tão eu mesma quanto o Egito me permitiu.

Que estas lágrimas que brotam sejam como o Nilo foi durante tantos séculos: uma época de cheias tornando a terra fértil, aguardando farta e tão esperada colheita...

quinta-feira, julho 01, 2010

La fora




Reaprendi a viver sem voce
Surpreendente perceber ser mais facil do que eu podia imaginar
Ha tanta vida la fora!
Que hoje eu so temo a hora
Em que tiver que voltar.

domingo, junho 27, 2010

News from Cairo!!




Hotel maravilhoso, companhias agradaveis, piramides e esfinges e realizacao de sonhos...
Precisa de mais pra voltar a sorrir??

domingo, junho 20, 2010

Fui!!!!




A partir de hoje, eu sou apenas um pontinho caminhando por este mundo tão gigante.
Um pontinho, deixando temporariamente todos os problemas fora da área de serviço...

sábado, junho 19, 2010

Maktub



Estando a meio passo de dar a maior passada da minha vida, percebo hoje o quanto tenho a agradecer. Eu não estaria neste lugar hoje, se não tivesse passado por tantos outros, tenham sido eles bons, tenham sido ruins.

Mas agradeço. Agradeço a quem me fez sorrir por pouco tempo, e depois me feito chorar por muito, e agradeço também à rejeição imposta, porque sem ela eu jamais teria percebido o desperdício de energia que teria sido apostar num jogo cujas cartas já estavam tão marcadas... como costumo dizer, o universo conspira a favor, nós é que deturpamos. Então agradeço por terem me impedido de deturpar uma triste, porém concreta realidade: para duas pessoas ficarem juntas, não basta querer, precisa haver afinidade de almas, precisa haver amor sincero e criativo, e por isso agradeço por ter sido forçada a ver, por mais dolorido que tenha sido, que nenhuma das duas coisas jamais existiu sinceramente dentro de mim. Estar apaixonado pode ser muito bom, mas há algo de muito errado quando é mais gostoso a sensação de estar apaixonado do que as conseqüências que o apaixonamento deveria trazer.

Então agradeço por ter sido forçada a admitir que na verdade não era amor, não era sequer paixão, era mais carência e necessidade de perdoar a mim mesma, expiando as culpas do passado numa nova relação. Era teimosia e carinho, que juntos podem se revelar uma combinação fatal. A gente tem que saber a hora de parar, e não fosse o medo alheio, eu não teria parado na hora que devia. Agradeço.

Agradeço pelo outro lado da moeda, das relações verdadeiras que duram apesar das décadas, em que o encontro genuíno não se dá através do beijo, se dá através da cumplicidade. Maktub: o beijo é o selo oficial da veracidade daquela relação, que não se sabe estável, estruturada, mas que não precisa nem ser. Basta que exista por conta própria, que a intimidade resista aos anos e às outras pessoas que cruzaram nossos caminhos, às brigas e mágoas. Basta que tudo o que foi de ruim se dissolva quando os olhares se encontram e quando simplesmente nada precisa ser dito. O beijo somente sela a autenticidade do nosso elo, e agradeço por isso tudo me fazer lembrar que não, não estou pedindo demais, apenas pedi à pessoa errada. Não adianta pedir a alguém por algo que este alguém é incapaz de dar, não por capricho, mas por simplesmente não possuir. Agradeço a quem realmente está junto de mim mesmo não estando... como um anjo da guarda que me protege à distância, como um dia comentamos.

Eu agradeço também às inovações. Porque se eu não estivesse no vazio, jamais haveria espaço pra esse outro ser entrar, e na verdade não importa quanto tempo este ser irá ocupar este espaço, importa que nos momentos que ocupou, este espaço foi verdadeiramente preenchido. Me fez perceber que na vida sempre há movimento, a gente se movimentando junto ou não. Então eu agradeço pela possibilidade de me ver novamente como sou e gostar do que vejo, sem ser forçada a me moldar tal qual massinha para corresponder às expectativas de outrem. A espontaneidade reforça o quão especial algo pode ser, apesar de efêmero e incerto, e esta aceitação das coisas como elas simplesmente são é o verdadeiro perdão que procurei encontrar no lugar errado.

Está na hora de dar este passo mágico e abandonar as antigas crenças e culpas. Sem buscar nada, sem fazer perguntas, apenas vivenciar o que pede para ser vivido, o que estava escrito nas linhas tortas da minha vida: eu já sou exatamente a pessoa que desejo me tornar e, por enquanto, este é todo o amor de que preciso.

quarta-feira, junho 16, 2010

Deruchett

Se existe algo que eu realmente abomino em mim são as contradições absurdas que encontro aqui dentro. A eterna batalha do inconsciente VS ego, do racional VS emoção... são tantos os paradoxos que se torna difícil de organizar minha mente.

As terríveis sensações de perda de coisas que nunca tive. Saudades de coisas que jamais vivi. Ódio e amor caminhando lado a lado. E as perguntas. As perguntas: quando foi que tudo aconteceu? Como? Por que? Para que?

Para que?

Parece realmente banal que, há menos de 5 dias de realizar um grande sonho, eu ainda esteja apegada a questões tão... mundanas. E outras questões tão mundanas quanto, porém fontes óbvias de prazer e expiação de culpas, carregam tão menos peso que me sinto extremamente tendenciosa e apegada ao sofrimento. Melancólica mesmo.

Mas... eu finalmente voltei a ouvir música. E, surpreendentemente, elas me lembram outros olhos e outras vivências. Saudades de décadas que nunca morrem. Relação de verdade. Afinidade real, subjetividade sem limites, verdadeira compreensão. Amor de almas.

Para F., com carinho.

Parei de ser só eu, meu bem.
E você vai sem mesmo saber o quanto vai passar
desse mundo que nos dói.
Eu procurei ficar mais perto do lugar que é você.
Foi como ver que perto de um fim, ou mesmo um final,
Nada vai morrer.
Como os lares querem par.
Venha e não quererá que eu passe outra vez.


Deruchett - Solana

segunda-feira, junho 07, 2010

Quem tem medo do lobo-mau?


Há cerca de 100 dias, quando finalmente me decidi por investir boa parte das minhas economias numa viagem de sonhos, eu não imaginava o quanto eu ainda teria que me preparar emocionalmente para conseguir embarcar – e chegar! – inteira para o outro lado do mundo.

Ou melhor: eu acho que imaginava sim, pois um dos primeiros pensamentos que me surgiram diante da idéia de ficar 28 dias longe do namorado foi “Será que vou estar namorando até lá?” Acho que era intuição: pouco mais de 30 dias depois, já estava sem namorado, mas com a primeira parcela da viagem devidamente paga.

Nunca viajei sozinha como estou prestes a fazer. Pra falar a verdade, a solidão sempre foi um super lobo-mau para mim, sempre me assustou um pouco, e se existe uma lei na vida que eu finalmente entendi é que não adianta ficar fugindo da raia por muito tempo: se existe uma questão pra você enfrentar, o universo vai tratar de te forçar a isso.

E é por isso que esta viagem, para a qual faltam míseros 13 dias para acontecer, deverá ser tão importante neste contexto: tirando minha queria professora Elis, não conheço mais absolutamente ninguém que estará por lá. No Cairo, sei que estarei bem assessorada e a realização do grande sonho da minha vida não deverá me permitir ficar sentindo muito a solidão. Mas a idéia de estar em Aswan, Luxor, Karnak, Sharm el Sheikh SEM Elis, e depois um dia inteiro sozinha em Istambul aguardando a conexão para Shanghai, ah, isso eu confesso que me angustia um pouco.

Desde a preparação para a viagem (cartões para desbloquear, seguro para fazer, visto pra tirar) eu já sinto o treinamento em autonomia sendo exercitado. Afinal, são coisas de super responsa que só eu mesma posso fazer. E acho que tava mais do que na hora. Hora de largar a mão de me sentir meia, e me sentir inteira. De largar a mão de pensar como o outro está, e pensar e me responsabilizar por como eu estou. Eu, eu eu.

Já tava mais do que na hora de eu mudar, e junto transformar o lobo-mau em bichinho de estimação.

quinta-feira, junho 03, 2010

Saudades

E muita, mas muita vontade de jogar boliche...

segunda-feira, maio 31, 2010

Next anyway

Quando se passa tempo demais equilibrando-se em cima de um muro de fina largura, é quase um alívio finalmente cair. Seja para o céu, seja para o inferno, creio que o mais importante é sair do limbo.

Após o duro silêncio, com tormentas, xiliques e estranhas calmarias, estar solo novamente pode ser uma perspectiva desanimadora. Eu nunca acreditei que realmente houvesse esse estágio assustador de estar à beira dos 30 anos e ainda não estar nem perto de constituir uma família. Essa é a deixa pros moderninhos de plantão elevarem suas vozes: é isso o que eu quero, ou é o que a sociedade nos impõe? Você realmente gosta do cara, ou gosta de ter um namorado? Você sente saudade dele, ou de não estar sozinha?

Eu certamente não sei responder essas perguntas nada sutis com convicção, mas a verdade é que, após qualquer rompimento amoroso, a gente sempre acha que quer, que gosta, que sente. A gente só lembra das coisas boas e esquece todos os mil defeitos, os amigos não tão legais assim, os hábitos estranhos ou mesmo as frustrações sexuais.

A carência fala tão alto que de repente eu, que nunca tive assim loucura por crianças, comecei a desejar uma casa barulhenta e com fraldas all over. C’mon! Tudo o que eu quero é ter algo mais importante pra me preocupar do que homens, relacionamentos e a falta deles (filhos costumam sem ótimos para quem realmente acredita que transferir o problema pruma outra coisa é resolver o problema).

É triste, porque ser mulher nos dias de hoje é complicadésimo. E ser uma mulher como eu, caseira, introspectiva e mais voltada pras coisas intra do que pras coisa inter, fica mais complicado ainda. Qualquer menção a conhecer novas pessoas já me dá preguiça: preguiça de conhecer alguém. Saber com que trabalha e falar do meu trabalho. Ter que agüentar as perguntas que invariavelmente assombram uma psicóloga. Ter que compartilhar gostos musicais, explicar porque não como sushi, que não sei andar de bicicleta, que eu não sou agressiva por lutar kickboxing nem super sensual por fazer dança do ventre, que eu tenho alguns problemas com intimidade... affe, já cansei.

Dá vontade de montar um dossiê pessoal e entregar pro camarada (que camarada?), com todos os prós e contras já descritos, todos os defeitos já escancarados, e pedir pra ele assinalar sim ou não no final da página. Prático, rápido e eficiente.

Mas a vida real bate na nossa porta e a gente tem que então se conformar que a partir de agora é isso aí: noites frias enrolada no edredon, convites sem graça, homens babacas com papos chatos. E se convencer de que a vida de solteira também tem, afinal, seu lado bom – sem horários, sem satisfações, podendo escolher P, M ou G a qualquer momento, ir pro forró ou pra casa do amigo, não ter que sorrir amarelo nem fazer social quando tudo o que se quer é ficar de calcinha velha deitada na cama.

Se agora a perspectiva da solidão me assusta, que venha... afinal, por dentro, não somos todos sozinhos? Como diz minha amiga Luli, I´m not ok, but NEXT!, anyway...

sexta-feira, maio 21, 2010

Silêncio

Tento, aqui dentro, reencontrar meus fragmentos. Mas as palavras fogem súbitas enquanto aguardo o seu momento – esperando respostas encontro apenas mais perguntas, desça sua espada sobre mim, seja ela um não, seja ela um sim, qualquer que seja o peso desse fardo. Esse silêncio bastardo que corrói é o mesmo que constrói expectativas sem fim, unindo pontos, ligando formas e buscando fórmulas para dissipar esse nó aqui dentro de mim. A cabeça pesa procurando uma saída, um desenlace firme para essa cilada, a frase é triste, mas quem poderá negá-la? – eu admito, é verdade, apenas quem te inflige dor pode tirá-la.

sexta-feira, maio 14, 2010

Boas Novas



Há muito tempo que eu não escrevo aqui sobre o Projeto Mulherzinha. Bom, na verdade, faz tempo que eu não escrevo aqui sobre qualquer outra coisa além do sentimento de rejeição que estava acabando com a minha beleza.

Mas a verdade é que o Projeto Mulherzinha deu tão, mas tão certo, que eu levei oficialmente meu primeiro pé na bunda e chorei como uma mocinha dos filmes de faroeste. Deprê daquelas com direito a litros de lágrimas, espinhas no rosto e 5kg a menos (oba!).

Minhas amigas mais chegadas me dariam a maior bronca por eu usar o termo “pé na bunda”. Mas a real é que eu não acredito em términos de comum acordo, sempre tem uma parte que fica sentindo aquele gostinho de ‘quero mais’ que, apesar da iniciativa do término ter sido minha, amargou a minha boca nas últimas 4 semanas. Então eu sinto que na verdade quem foi a rejeitada fui eu mesma, já que não houveram protestos do outro lado sobre a possível e tenebrosa separação.

Nas últimas 4 semanas, eu confesso não ter tomado banho todos os dias e não ter depilado as pernas com a mesma frequência. A preguiça dominou – ai que se não fossem meus atendimentos e minha própria terapia, promovida a duas vezes por semana, eu teria ficado em casa com o mesmo pijama todo dia. Meu cabelo andou meio negligenciado, os hidratantes foram postos de lado e o resultado disso é a pele rachada estilo solo do sertão. O fato de estar entrando em calças há muito abandonadas não estava sendo muito animador.

Mas aí eu lembro que tudo nessa vida é impermanente e que até as piores cólicas menstruais têm fim após 5 dias. É claaaaaro que as ligações do ex e uma nova perspectiva de futuro deram uma animada na potranca aqui, mas no fundo no fundo, ter recuperado uma parte da minha vida foi indispensável pra minha sobrevivência psicológica.

Revisitar amigos, retomar família, recuperar o gosto por certas coisas, dançar forró até os pés doerem, girar os véus na dança do ventre e até mesmo ter os cabelos cheirosos novamente deram um up cerebral daqueles, e eu finalmente consigo vislumbrar como é que era ser eu mesma. E é uma delícia voltar a ver os olhos mais brilhantes e as pálpebras desinchadas.

Hoje, ainda a 50% da recuperação completa, eu vejo um pouquinho mais de fé no futuro dentro deste coraçãozinho magoado. Mas quem me conhece sabe: dentro da mesma mulherzinha habita a guerreira que distribui socos e pontapés na tristeza quando se cansa de reclamar.

Eu ainda quero mudar o mundo. No maior estilo Scarlet Ohara, eu digo que jamais (jamais??) sentirei dó de mim novamente.

segunda-feira, maio 10, 2010

A outra

Uma amiga minha disse: você só sabe se realmente gosta de alguém quando transa com outra pessoa.

Que pena, essa de se conhecer tão bem a ponto de saber, de ante-mão, que nada disso seria necessário pra poder consultar com toda sinceridade o meu coração.

A ignorância, às vezes, é tudo o que se precisa para ser feliz.

quarta-feira, maio 05, 2010

Feliz aniversário

Eu queria poder olhar no relógio e achar que já são horas de te ligar. Te diria bom dia e diria que estou muito feliz pelo nosso aniversário. Eu faltaria ao treino somente pra ficar com você. Eu te levaria uma flor e sorriria como sorri há muito tempo atrás. Eu escreveria uma poesia, compraria sorvete, compraria lingerie nova, e me perfumaria toda só pra receber teu abraço apertado, sabendo que nosso futuro estaria apenas começando, como o nascimento de algo que acaba de acontecer, apenas neste minuto. Eu dormiria bem. Eu não teria pesadelos. Eu jogaria no lixo minhas bolinhas de dormir. Eu tiraria do lixo as coisas que amargamente descartei. Eu atiraria no lixo meus sentimentos maldosos. Meus pensamentos cruéis. Se hoje ainda tivesse você, eu daria uma festa, esta mesma na qual o mundo inteiro hoje dança, andando pela Angélica, falando nos telefones, acelerando os carros, rindo no trânsito, ouvindo música, nos cafés na padaria, nas risadas no metrô, nos cigarros ao longo da calçada. Se ainda tivesse você, apagaria eu meu próprio meu cigarro e retomaria minha vida, aquela mesma que ficou lá atrás, no dia em que nosso amor tão prematuramente morreu.

sábado, maio 01, 2010

Maio




Abril passou por mim como um tufão que destelha as casas. Mais particularmente, diria que abril me arrancou o chão. Exatamente um mês atrás, tudo era muito diferente, muito constante, e não posso deixar de afirmar – tudo estava muito crônico. Inexplicavelmente, os últimos anos têm sido assim para mim, com bons presságios de verão e ventos duríssimos no inverno. Gela também aqui dentro.

De certa forma, minhas folhas também estão caindo junto com as das árvores que balançam nas ruas. Como em outros outonos, a sensação é de hibernar num constante farfalhar de sentimentos, em busca do galho mais forte que sustente a última folha. As distâncias, as separações, tudo o que tem permeado meu cotidiano me lembra a solidão que já senti em outras estações, que passaram incólumes enquanto o tempo me trazia novos focos.

A semeadura tão batalhada revelou necessidade de plantar novas flores, engolindo a seco os fracassos da última colheita. Perda, solidão, luto. Percorro todos os estágios do elaborar ao mesmo tempo: negação, raiva, barganha, tristeza. Espero pacientemente pela aceitação sem colocar carros na frente dos bois, sem me forçar a adentrar esta festa da vida da qual me sinto temporariamente excluída. É hora de escolher bem as sementes, cuidar bem do solo, adubar.

Este primeiro de maio não encerra em si esta fase avassaladora, mas traz novos ventos de que, afinal, qualquer lugar que estejamos se trata do primeiro passo rumo a uma existência mais edificante. Eu ainda não cheguei lá, onde sempre quis estar, mas sinto que o caminhar, de agora em diante, precisa romper esta espiral e seguir em frente.

Levanto da cama à uma da tarde com uma estranha sensação de dejà vu. Ouço na voz de Paula Toller o veredito final. Quase que um presságio...

Maio
Já está no final
O que somos nós afinal
Se já não nos vemos mais
Estamos longe demais

Maio
Já está no final
É hora de se mover
Pra viver mil vezes mais
Esqueça os meses
Esqueça os seus finais
Esqueça os finais

quarta-feira, abril 28, 2010

Parece, mas não é




Sensibilidade às vezes é intolerância.

Convicção, arrogância.

Impulsividades se disfarçam de coragem, confiança pode bem ser prepotência.

Determinação pode ser teimosia. Perseverança, negação da realidade.

O que era crença se revelou necessidade. O otimismo, ilusão.


Sobem-se os véus do desencanto, primo antigo da paixão.


A história de amor era apenas dejá vu.

terça-feira, abril 27, 2010

"Não fica assim, moça"

Foi o que me disse o segurança, ao me ver saindo em prantos da farmácia com minhas novas bolinhas de dormir.

“A gente se doa tanto que o coração fica assim apertado. Tem que esperar menos do outro, mas o ser humano é assim mesmo.”

Que sábias as palavras e que delicadeza dentro de um terno preto, como tantos que vemos por aí.

Agradeci sua preocupação, valorizei de verdade, mas para mim foi só uma maneira bonita de dizer as minhas mesmas palavras: eu dei meu sangue, entreguei meu corpo, e sugaram minha alma, só me deixando a carcaça...

sábado, abril 24, 2010

lacuna

Foi como um soco na cara. Aqueles rostos todos conhecidos, me sorrindo amarelo, como se dissessem “foi bom enquanto durou”. Uma multidão de gente estranha, com quem jamais me identifiquei, como que me consolando através do olhar. A porrada na cara de ser bem tratada pelos seus familiares, carregados de condescendência, carregados de empatia – a empatia que você não teve. Ali, no universo que uma vez foi apenas meu, também deixei que você adentrasse, sem no entanto receber o espaço mínimo necessário para fazer parte do seu dia-a-dia. O tapa no rosto é perceber que doei tudo aquilo que eu tinha, todos os meus espaços, todos os meus universos, sem ter deixado sequer uma lacuna no seu cotidiano, nem uma brecha que você procure preencher com falsos pensamentos de conformismo, nem uma fenda que te mostre hoje a falta que minha ausência te traz. Nada. Percebo hoje que sua vida tão plena, seus amigos sorridentes, sua família unida e feliz, todo seu universo uniformemente preenchido me reflete o rombo que no meu ficou quando te arranquei a duras penas do meu cotidiano. Esse rombo, sei que me pertence – mas a ausência da adrenalina na qual você é viciado, a falta do frisson inicial que qualquer relacionamento sofre com o passar do tempo, a maneira como você se entedia tão logo a novidade te deixe, é isso que hoje me traz a certeza de que foi melhor assim: sua vida pode ser completa demais para poder me acolher, mas ao mesmo tempo, eu sempre fui grande demais pra caber dentro de você.

sexta-feira, abril 23, 2010

pelo que esperar



Tempo, que passe.

quarta-feira, abril 21, 2010

Inércia

Queria acordar e ver que tudo isso é um sonho, um sonho bizarro e mal-vindo. Mas o tempo congela quando não se tem o que esperar, e se torna preferível passá-lo dormindo. Tudo se torna pálido e lento, e é preciso procurar muito a fundo por um motivo verdadeiro de empenho. Procuro me desapegar do resultado e atentar ao processo, mas é duro quando este é um contínuo elaborar de perdas. De se lamber feridas.

Racionalizar, procurar alívio. Esta é a rotina. Buscar conforto na falsa idéia de que se tentou de tudo. O mundo inteiro parece uma festa para a qual eu não fui convidada, e fica cada vez mais incoerente que coisas tão complexas possam ter se defeito de maneira tão assombrosamente simples. Rápido, mas não indolor. Como um esparadrapo retirado de uma pele em carne-viva, sem preparo algum.

As saudades, estas já haviam. Mas a perda se torna estranhamente concreta quando tudo o que se ouve é o barulho ensurdecedor do silêncio – nada restou. Fluindo na densa maré da inércia, procuro aceitar o tempo pacientemente enquanto ele escoa dolorosamente por entre meus dedos. Os ponteiros dos relógios são apenas hastes finas, que observo correrem sem fim. Subitamente descubro, é isso: o tempo é o bem mas precioso que um ser humano poderia perder.

terça-feira, abril 20, 2010

Lugar errado



Um viajante vinha andando pela rua quando avistou, na esquina próxima, um homem a procurar algo no chão, embaixo de um poste de luz. Aproximou-se do homem o viajante, e perguntou-lhe o que fazia. “Procuro por minhas chaves, que perdi”. O viajante imediatamente se prontificou a ajudá-lo. Procuraram por muitas horas a chave perdida, debaixo da luz do poste, sem sucesso. Horas mais tarde, já cansados, pararam para descansar. O viajante então perguntou ao homem: “Parece não estar aqui. Você não tem idéia de onde poderia ter perdido sua chave?” , ao que o homem disse “Sim, eu perdi na rua de trás!”. O viajante, confuso, indagou: “Mas, oras, então por que a procura aqui?”. Ao que o homem respondeu: “Aqui tem luz.”

sexta-feira, abril 16, 2010

procuro

Meu coração quase parou quando vi, reluzente, aquela moto preta parada próximo à minha garagem. Nestes dois segundos que levei para compreender que não era você, nova angústia aportou no meu peito e a vontade de gritar foi quase incontrolável. Não, não era sentimento novo. Apenas mais uma dose. Apenas mais um momento em que busco te encontrar onde quer que seja. Procuro por você em meio ao caótico trânsito de São Paulo, mesmo sabendo que jamais te acharia. Te procuro no portão do meu prédio com falsa e cruel esperança. Te procuro na minha caixa de entrada, nas letras não escritas daquele email em branco. Te procuro dentro de mim e o que encontro são fragmentos de um sonho distante, de data antiga, meses e meses atrás. Te procuro nas histórias que sobrou para eu contar. Procuro por nós dois dentro de cada casal que vejo na rua, dentro de cada par de mãos dadas com afeto, dentro das músicas que costumávamos ouvir, da canção que você prometeu tocar. Não nos encontro mais. A vontade de chorar se torna enlouquecedora quando penso que a falta que sinto já não é nova aqui dentro, a saudade só se tornou oficialmente constante. Falta – uma palavra pequena pra descrever quando um pedaço de nós já morreu.

quinta-feira, abril 15, 2010

Aceitação & Entendimento




Uma paciente me perguntou hoje: “como posso aceitar isso se não consigo entender por que isso está acontecendo?” A pergunta me fez pensar... Será que é possível aceitar algo que não conseguimos compreender? Ou será que são tarefas diferentes, independentes uma da outra? Diante de algo conflitante, seja uma perda repentina, um sentimento que acaba, uma decisão inesperada, temos sempre a tendência de procurar por um sentido, uma explicação para tudo aquilo. Como tudo pôde ter mudado tão rapidamente? Como em questão de segundos, minutos, dias, algo que parecia tão estável de repente se fez diferente? Como posso me antecipar a este tipo de surpresa, acontecimento, fatalidade?

Talvez o primeiro passo seja mesmo tentar entender, afinal a sabedoria requer conhecimento. Mas diante do fracasso de uma tentativa, se torna fundamental aceitar o não-entendimento. Afinal, o mundo é tão complexo, tão cheio de variáveis interdependentes, de ações e reações e mais reações, que fica difícil delimitar uma linearidade causal – o bom e velho fio da meada. Onde foi que tudo isso começou? Que decisões eu tomei ao longo da vida para chegar até aqui? Bom, em última análise tudo isto está acontecendo porque, em primeiro lugar, eu nasci, lá, 27 anos atrás. Então tudo isso deve estar acontecendo porque... a vida é assim? Uma confusão caótica de idas e vindas, decisões e escolhas e renúncias e caminhos intrincados e gente que aparece e escolhe, e renuncia, e trilhamos milhares de caminhos dentro de um só...?

Compreendemos tão pouco! Somos tão ignorantes no que se trata da compreensão da vida humana e da nossa existência! Talvez este seja o entendimento que devemos procurar, ao invés de nos fatigar em desvendar essa complexa teia que nos emaranha todos os dias. Aceitar o não-entendimento retira um peso enorme dos ombros, exercita a humildade e elimina a arrogância, além de aliviar o nosso fardo de ter que decidir corretamente, ter que agir corretamente, ter que fazer tudo corretamente. Errar é permitido, a perfeição não é mais esperada – como humanos bobinhos que somos, dentro do nosso desentendimento, talvez o que de mais correto possamos fazer é seguir o fluxo das coisas sem tanta auto-exigência, tendo a humildade e sabedoria de correr atrás do prejuízo quando percebemos nosso erro. Se vai dar pra consertar, são outros 500, mas a humildade, por si só, já é o bastante para entendermos o quanto, a bem da verdade, não entendemos praticamente coisa alguma...

terça-feira, abril 13, 2010

por linhas tortas

Tento com todas as minhas forças ter firmeza o bastante para continuar, para que eu fraqueje cada vez menos e que a culpa não venha me assolar. Preciso me convencer de que o universo conspirará sempre a favor, mesmo que das maneiras mais tristes. Me concentro na idéia de que os sofrimentos simplesmente fazem parte desta vida, de que se originam especialmente no apego e desejo excessivo. Tento me perdoar pela forma tosca com que procurei afastar-me das origens do meu sofrimento, mas procuro me ater ao fato de que não importa de que forma consegui sair deste limbo, o que importa é que saí. Nem sempre fazemos algo da maneira mais adequada, e devemos colher as conseqüências das nossas atitudes, mesmo as que foram motivadas pela tristeza ou pelo desespero. Nesse momento, busco meu perdão, mesmo que aquele a quem feri não consiga me perdoar. Fiz o que consegui fazer – se até Deus escreve certo por tortas linhas, por que eu não haveria de falhar?

domingo, abril 11, 2010

Estiagem



As palavras me faltam à mente quando tento expressar o que sinto de qualquer maneira mais objetiva. É um amontoado de sensações tão intensas, tão estranhas, que fico simplesmente olhando para o papel esperando que algo aconteça. De certa forma, não deixa de ser o que fazia também com minha vida: a observava passar, na esperança de que um sinal me fosse dado, me forçando a agir. Como posso então me ressentir da vida, que me trouxe todas as respostas?

Não reconhecia ao certo o que estava meu lado. Era de fato algo por que me encantei. Algo que me fazia sentir-me verdadeiramente especial. Fazia-me sentir escolhida, enquanto que hoje me parece que eu apenas escolhi, entre tantos sorrisos, aquele que mais me envaidecia. Talvez o que mais me doa hoje é ter de reconhecer que não fui feliz como achei que seria quando fizesse este tipo de escolha. Talvez porque a escolha tenha sido precipitada, e me resta simplesmente admitir que a intenção fracassou.

Após tanto tempo montando meu jardim, cobrindo-o de ricas sementes e flores de cores alegres e cheias de vida, é dolorida a sensação de fechar novamente as suas portas, simplesmente por não sentir mais orgulho dele. Talvez com o outono tenha chegado novamente a hora de um novo balanço, hora de nova semeadura em meio à estiagem, plantar novas flores e então torcer – torcer para que o sol esquente o tanto quanto for necessário para que estas novas sementes possam se aquecer, gerando farta e tão esperada colheita.

Caos calmo


A calma só habita os corações convictos.

terça-feira, abril 06, 2010

Sofrimento - de Chico ao Budismo



No fim de semana passado, fui assistir ao filme do Chico Xavier. Como já disse aqui algumas vezes, não sou religiosa, tampouco espírita. Gosto de beber de várias fontes, e tendo sempre achado o Chico um baita de um Buda, não havia razão para não ir assistir ao filme.

Críticas à parte, posso dizer que gostei de 80% do filme, mas uma parte dele, em especial, me chamou a atenção. Parece que o Chico estava num avião, voando sabe-se lá para onde, quando uma forte turbulência o deixou em pânico e ele começou a gritar “Meu Deus, me ajude, socorro!”. A cena toda é muito engraçada, Chico desesperado devia ser uma cena rara. Bom, neste ínterim, lhe aparece seu guia espiritual Emmanuel, que lhe censura pela gritaria. De nada adianta Chico justificar seu desespero na situação de vida ou morte – “Tanta gente corre risco de vida! Neste exato instante! Você acha que é privilegiado? Se corre risco de vida, então pare de gritar e morra com educação”, disse um Emmanuel severo e muito, muito sério.

Hoje, assistindo à palestra semanal da Monja Coen Sensei, do ZenDo Brasil, o tema me voltou à cabeça. A primeira das 4 Nobres Verdades budistas diz exatamente a mesma coisa, em diferentes palavras: na vida, a dor e o sofrimento estão sempre presentes. É como uma característica essencial da existência humana - quem está vivo sofre, em um momento ou em outro. Sofre por diversas causas, separações, perdas, doença ou morte, ruína ou excessos, mas invariavelmente sofre. E isso não é um conceito teórico, uma idéia, uma analogia. Esta é a nossa realidade, nosso cotidiano, nossa experiência desde a infância. Nós sofremos. Ponto.

E se nós sofremos e choramos e temos más experiências desde a infância, se a tristeza de quando em quando simplesmente nos ocorre, por que é que nos apegamos tanto ao sofrer? Por que é que cada vez que nos sentimos triste, sofremos como se estivéssemos muito surpresos por não estarmos de todo contentes?

A gente tende a alimentar o sofrimento, carregá-lo de justificativas, inconformismos, indignações. Ouvimos desde cedo que temos que ser felizes, felizes, felizes, quando sofremos algo vai muito mal, temos que fugir da dor como diabo foge da cruz. Vemos o sofrimento como uma pegadinha que nos espera atrás da porta, quando deveríamos ver a dor como simplesmente uma parte da vida que, como todas as outras, vem e vai. A tristeza também passa, se a gente não se apegar.

Mas não! Não, a gente se apega ao sofrimento numa completa não-aceitação, como se devêssemos ser imunes à tristeza e o sofrimento nos fosse muito estranho. A gente leva para o lado pessoal e se acha super coitadinho, não acreditamos que aquilo está acontecendo. Somos os únicos em sofrimento naquele momento, somos especiais. É quase como se pulássemos de um abismo e ficássemos magoados com a Lei da Gravidade, que nos fez cair. Sacanagem, essa Lei que nos persegue.

Está mais do que na hora de aceitarmos que o sofrimento é uma condição intrínseca à existência humana, e pararmos de nos surpreender com as dificuldades da vida. Não é a gente que é coitadinho, não é a nossa vida que é muito dura. Vidas são duras. Viver é difícil. Mas se torna muito mais difícil se a gente olha apenas pro nosso próprio umbigo e fica sentindo pena de si mesmo.

Da próxima vez que eu me sentir triste, com raiva ou coitadinha, culpando o trânsito, a economia ou o namorado, tentarei me lembrar que outros tantos seres humanos estão em dificuldade iguais ou até maiores. Na palavras da Monja Coen Sensei: se olharmos para cima, sempre veremos coisas mais elevadas e melhores do que nós. Mas se olharmos para baixo, sempre haverá situações mais difíceis.

O negócio é deixar passar. Ver a dor como algo natural e deixá-la acontecer, sem se apegar e se identificar com ela. Devemos é exaltar as alegrias, para permitir que a dor ceda espaço ao contentamento.

No fim das contas, questão de perspectiva. Parafraseando o poeta, a dor é inevitável, mas a proporção do sofrimento é opcional.

sábado, abril 03, 2010

Partida


Lidar com a saudade não é fácil. Agüentar a perda, seja ela concreta ou abstrata, é sempre doloroso, e para mim se torna especialmente difícil tolerar a falta e a passagem do tempo.

De nada adianta ter a consciência de que existe em mim um problema antigo relativo às separações. Perdas, abandonos, ausências – tudo fica sendo uma coisa só na qual se materializa o sentimento irracional, mas absolutamente concreto, da rejeição.

E enquanto me sinto só, olhando com olhos vazios para o quarto de dormir de minha irmã ausente, me pego constantemente sentindo um vazio que, desconfio, sempre esteve aqui. Seria a separação a única responsável por este sentimento eclodir? Ou estou ignorando outras tantas variáveis?

A sensação é de desamparo, apesar da tamanha esperança sobre o dia em que tornarei a encontrá-la. O destino é o oriente, na melhor das hipóteses, vencendo a ganância das posses e utilizando os bens materiais para matar a saudade. Os planos anteriores haverão de ser recapitulados. Notas de real vencendo obstáculos e superando distâncias, me aproximando de quem verdadeiramente me oferece companhia. Hoje, apenas isso faz sentido pra mim.

E enquanto isso não acontece, enquanto me vejo sozinha em meio às dores violentas da separação, tento encontrar as forças estruturais que haverão de me fazer emergir deste grande canyon, deste denso buraco negro nas qual todas as questões são engolidas, todos os afetos se dissolvem, onde tudo ecoa pela enorme dimensão do vazio.

O tempo se arrasta.

Neste momento, apenas o silêncio me consola.

terça-feira, março 30, 2010

MUDA, MUNDO, MUDA!!!



Quer mudar o mundo comigo?

Vai lá!

http://mudamundomuda.blogspot.com/

Novidades, projetos, intervenções, relatos!

Siga também no twitter: @mudamundomuda

quarta-feira, março 24, 2010

Bilhetes em meio a livros: Mudando o Mundo parte I



Há alguns meses atrás, tive uma epifania e decidi me engajar, de todas as formas possíveis, em mudar o mundo. Tá, pode parecer impossível, mas eu realmente resolvi que queria fazer alguma coisa a respeito, pelo menos fazer a minha parte e plantar uma sementinha de melhoria no mundo.

Eu pensei assim: se uma pessoa pode fazer algum bem, imagine 10? Imagine 100? E se TODO MUNDO fizesse uma, umazinha só, boa ação por dia? Bom, eu ia fazer alguma coisa e pronto, só precisava saber o que.

Ajudar no um-a-um me parecia pouco, até porque como psicóloga isso é o mínimo esperado, não é nada extra e tampouco surte um efeito em grande escala. Eu queria atingir várias pessoas de uma vez. De repente, plim!, descobri exatamente o que queria fazer. E hoje, orgulhosamente, eu anuncio que a parte I da intervenção social que eu planejei foi iniciada!

A idéia é na verdade muito simples: imagine que você vai comprar um livro em busca de algo para se inspirar, se distrair, ou de algo que te ajude de alguma forma. Aí você compra o livro e pans, encontra dentro dele um papelzinho escrito à mão: “Querido leitor: quem não sabe o que procura não reconhece quando encontra. Você sabe o que procura?”.

Num outro livro, você pode encontrar algo diferente: “Querido leitor: a mudança pode levar algum tempo. Portanto, comece AGORA! Nunca é tarde demais.” Ou “Querido leitor: se você continuar fazendo o que faz, terá sempre os mesmos resultados. Quer resultados diferentes? Faça algo diferente!”

No verso dos bilhetes há uma mensagem curta: “Gostou? Passe pra frente!”

Bolei mais ou menos 15 frases inspiradoras diferentes, todas convidando o leitor a uma reflexão rápida a respeito da felicidade e da qualidade de vida. Munida da certeza de que, dos 150 papeizinhos no meu bolso, ao menos 1 surtiria o efeito desejado, me convenci de que isso já era o bastante para que eu fosse à Livraria Cultura colocar o plano em prática.

Confesso que não foi fácil Os vendedores são extremamente simpáticos e queriam me ajudar o tempo todo, portanto foi difícil ficar sozinha por tempo suficiente para enfiar no meio das páginas do livro o bilhetinho-inspiração. Admito, teve hora que bateu um cagaço de ser pega, não consigo nem imaginar se isso é algum crime, se estava infringindo alguma norma e o que poderia ocorrer caso fosse flagrada.

Mas o risco valeu a pena... em mais ou menos 1 hora, consegui distribuir cerca de 20 bilhetinhos, o que é consideravelmente pouco mas também é o bastante pro teste-piloto. A média de 3 minutos por bilhetes é meio estatística mesmo, pois enquanto que nos lançamentos foi bem complicado pelo tanto de gente ao redor, na seção esotérica e de auto-ajuda foi baba.

Agora algumas dúvidas surgem: deveria eu colocar os bilhetes num tipo específico de livro? Será que isso tem a ver? Ou será que os best-sellers são melhores, pois atingem a massa mais rapidamente? O bilhete ser escrito a mão é realmente tão importante quanto eu achei a princípio, ou isso pode ser otimizado em função do tempo? Penso que outras questões irão surgir...

Outros 120 bilhetinhos estão prontíssimos aguardando sua vez, que deve ocorrer ainda neste final de semana. Novas frases estão sendo formuladas, mas é fato que uma só andorinha faz um verão bem meia-boca. Se 5 pessoas fizessem isso ao mesmo tempo, numa tarde de sábado, em uma hora 100 bilhetinhos seriam distribuídos, pra mais. Se cada pessoa resolvesse fazer algo semelhante na livraria do bairro, o movimento cresceria ainda mais. Isso poderia realmente se tornar revolucionário.

Fica aqui então o convite pra quem quiser ajudar a plantar sementinhas de amor e de cuidado para com o próximo. A ajuda vai ser bem-vinda não só pra mim, que não tenho como passar muito mais que uma hora na livraria, mas pra todo mundo que ler o bilhetinho e for tocado de alguma maneira.

Que a generosidade vai e volta, isso nem se discute. É simplesmente a lei da vida: faça o bem, e receberá o bem. Mas o ato de fazer o bem, de fazer algo em direção à mudança produz uma sensação de bem-estar incrível. Eu me senti maravilhosamente bem enquanto voltava pra casa, e de quebra ajudei uma fóbica a subir de elevador no último andar do meu prédio.

Contagiou. Não precisei de mais nada. Somente aquilo me fez feliz.

Bora?

segunda-feira, março 22, 2010

Casa própria



Ultimamente, motivada por sonhos recorrentes envolvendo casa-moradia-consultório só meus, me peguei interessada pelo caderno de imóveis do jornal, e vi em mim despertar o tão famoso sonho da casa própria.

A verdade é que venho mesmo refletindo sobre como, por que e quando realmente fazer os primeiros movimentos a respeito disso. Só que o principal fator – quanto - me faz quase cair pra trás cada vez que penso nisso.

Eu nunca imaginei sair de casa apenas quando casasse, até porque, nos dias de hoje, isso se torna cruelmente arriscado. Primeiro porque, assim como 90% da população feminina, eu não tenho a menor perspectiva de casar, pelo menos não nos próximos 2 anos. Segundo porque acredito piamente que a experiência da autonomia e independência plena é crucial para uma pessoa, esteja ela casada ou solteira.

Até pouco mais de um ano, eu tinha planos firmes, mas pouco objetivos, sobre sair de casa. Mas o tempo foi passando e me mostrando que eu dificilmente conseguiria manter o mesmo padrão de vida morando fora. Confesso que o vínculo relativamente recente que construí com a minha mãe também me desmotivou, não conseguia imaginar ficar sem ela. A idéia da solidão me assustava um pouco, o que me levou a pensar em descolar alguma roomie para morar comigo. E apesar disso tudo, eu tenho que admitir que o maior problema foi mesmo financeiro.

Olhar o caderno de imóveis só piora a situação! Nunca me senti tão distante de ter a minha casinha. A primeira página só traz aqueles mega apês, que custam de 1 milhão pra cima. Tinha um lá que custava 6 milhas, na Vila Nova Conceição. É claro que a minha realidade é outra, e que eu jamais procuraria uma cobertura, mas olhar as outras seções também não melhorou muito, o mais em conta custava tipo R$400.000,00.

Outro problema é que pouquíssimos anúncios trazem o valor do lugar, e eu realmente refleti sobre se deveria ir dar uma olhada naquelas casas que ficam em exposição, ou ligar pruma corretora só pra ter uma noção. Ou pra mentalizar positivamente, esse tipo de coisa.

Aí eu então entendi porque é que tanta gente ainda mora de aluguel. Eu não queria que fosse assim.

Na verdade eu nem to pensando seriamente em mudar de casa, mas ter esbarrado na questão foi um tanto quanto frustrante. O sonho da casa própria nunca esteve tão distante. Talvez eu deva descobrir como funciona o tal Carnê do Baú...

segunda-feira, março 15, 2010

É pique!


Dizem que aniversário tem tudo a ver com renovação de ciclos.

Eu até acho que tem mesmo. Nem que seja pelo ritual que é achar que mais um ano está começando agora... que seja simbólico, desde que eficaz.

Pra quem me perguntou se estou mais sábia aos 27 anos, nada melhor que mais uma historieta zen, tudo a ver com a renovação.

Às vezes, ser sábio é apenas e tão somente conseguir não ser estúpido.

Parabéns pra mim! E Namastê!


Certo dia, num mosteiro zen-budista, com a morte do guardião, foi preciso encontrar um substituto. O grande Mestre convocou, então, todos os discípulos para descobrir quem seria o novo sentinela.

O Mestre, com muita tranqüilidade, falou:

- Assumirá o posto o monge que conseguir resolver primeiro o problema que eu vou apresentar.

Então ele colocou uma mesinha magnífica no centro da enorme sala em que estavam reunidos e, em cima dela, pôs um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza a enfeitá-lo. E disse apenas:

- Aqui está o problema!

Todos ficaram olhando a cena: o vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro! O que representaria? O que fazer? Qual o enigma?

Nesse instante, um dos discípulos sacou a espada, olhou o Mestre, os companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e ...Zapt!... destruiu tudo, com um só golpe.

Tão logo o discípulo retornou a seu lugar, o Mestre disse:

- Você é o novo Guardião. Não importa que o problema seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado.

Um problema é um problema, mesmo que se trate de uma mulher sensacional, um homem maravilhoso ou um grande amor que se acabou. Por mais lindo que seja ou tenha sido, se não existir mais sentido para ele em sua vida, deve ser suprimido.

Muitas pessoas carregam a vida inteira o peso de coisas que foram importantes no passado, mas que hoje somente ocupam espaço num lugar indispensável para criar a vida.

Os orientais dizem:

“Para você beber vinho numa taça cheia de chá, é necessário primeiro jogar fora o chá para, então, beber o vinho.”

Ou seja, para aprender o novo, é essencial desaprender o velho.

Limpe a sua vida, comece pelas gavetas, armários até chegar às pessoas do passado que não fazem mais sentido estar ocupando espaço em sua mente.

Vai ficar mais fácil ser feliz.

Por Roberto Shinyashiki


PS: Obrigada à Shirlei pelo texto vindo em tão boa hora!

PS2: Fica um alerta: já dizia o Sensei Jorge Kishikawa: historietas zen são o máximo, mas ser apenas um leitor de historietas zen é o maior dos perigos. Exercite!

quinta-feira, março 11, 2010

Para o Cairo e avante!



Habibis, não é que agora é oficial? O Projeto Mulherzinha está indo tão longe que assim, sem mais nem menos, de repente ele vai me levar pro outro lado do Atlântico, ali, logo ali na costa africana, no meio do deserto do Sahara!

Após conversar com o Omar, o árabe narigudão responsável pela trip pro Egito em junho, os ânimos se acenderam todos e as providências básicas estão começando a ser tomadas: renovação de passaporte, pesquisa de seguro viagem, pedido de cartão internacional, e olha que ainda faltam quase 100 dias pra viagem!

O roteiro é incrível, fazendo conexão em Istambul, passando pelo Cairo durante o festival Ahlan Wa Sahlan, fazendo cruzeiro pelo Nilo em Aswan, chegando a Luxor prum vôo de balão e finalizando com um mergulho fantáááástico no Mar Vermelho em Sharm El Sheikh. Simplesmente a viagem dos sonhos!!

O Omar passou a maior segurança, apesar do estilo/visual ceroulas-regata-chinelão-de-dedo com o qual ele nos recebeu no seu escritório. A explicação tava logo ali, na casinha da frente, que é a casa em que ele mora... quer coisa melhor? Ir trabalhar sem tirar o pijamão?

Apesar disso ele pareceu ser super sério, talvez até meio chatão, coisa que a Elis já havia alertado... não sei se é assim mesmo ou se o lado “paizão mala” dele favorece a distorção, mas ficou clara uma extrema reprovação a passeios noturnos e baladas (“é tipo a rua Augusta, só promiscuidade”). E eu bem que já fui numas baladas ali na Augusta...

Mas pensando bem, talvez ele tenha alguma razão. A mulher no Egito tem um papel diferenciado, quiçá até inferior, e promiscuidade lá é o banal daqui... motivo pelo qual, aparentemente, estão vetadas as blusas de alcinha, as saias e as bermudas acima do joelho. Isso num calor de 50º no meio do deserto (pelo menos a gente não fica cremoso, já que o clima é tão seco que o suor evapora na hora). Ainda bem que o cabelo tem que ficar preso!

Todo o papo com o Omar me fez chegar a graus deliciosos de ansiedade e numa contagem regressiva rumo ao Egito. Já consegui me imaginar por lá, e certeza que eu vou chorar alguns litros cada vez que eu vir uma coisa nova. Na verdade acho que o choro vai começar em Cumbica mesmo! Mal dá pra acreditar que um dos meus grandes sonhos está para ser realizado!

A parte chata/fueda é que eu vou estar sozinha nessa... por “sozinha” entende-se sem nenhuma companhia mais íntima, sem nenhuma amiga, familiar ou namorado. A pessoa mais próxima será a própria Elis, mas nós já conversamos e ela parecer estar super ok em me adotar na viagem como filhinha dela e do maridão!

É claro que eu espero fazer amizades com outras meninas do estúdio, essas coisas sempre rolam. Mas não ter ninguém mais íntimo pra confessar uma possível ansiedade, um cagaço ou mesmo uma saudade do gatinho vai ser meio foda. Mas, bom... a vida adulta envolve esse tipo de coisa. E pra falar a verdade, acho que é o tipo de viagem que eu acabaria fazendo sozinha mesmo, já que ninguém que eu conheço tem esse mesmo tesão de conhecer o Egito, ver as pirâmides, se emocionar com areia... só mesmo a Ciça compartilhava meus planos Egito-Marrocos-Turquia (fica pra próxima).

Talvez até seja mais interessante fazer esse role sozinha... poder me focar e estar de corpo e alma em cada instante, sem fazer social nem me preocupar com nada. Em termos terapêuticos, nada poderia contribuir mais com meu amadurecimento, em todos os sentidos da palavra!

Agora é correr atrás das burocracias! Mas pelo amor aos meus bolsinhos, foi tudo de bom descobrir que, com o perdão do trocadilho, não, não é tão caro ir ao Cairo, mas voar de balão em Luxor é um verdadeiro luxo :)

domingo, março 07, 2010

Por favor?



Começou com algumas frases de amorosa revolta: “O amor é importante, porra!” começou a aparecer em vários cantos da cidade, ali no viaduto da Sumaré, por exemplo. Apesar da veracidade da frase, e da beleza da proposta, sempre me incomodou que o amor fosse requisitado de maneira tão agressiva.

Recentemente, pude notar que outro pedido tem sido feito: “Mais amor, por favor” está sendo estampado por aí. Nos pontos de ônibus, cabines telefônicas, muros baldios, debaixo do minhocão. O pedido aparece cada vez mais freqüente, e eu não pude evitar de me perguntar: o amor deve ser cobrado, ou mesmo pedido por favor?

O que me incomodava na agressividade da primeira frase começou a me incomodar no pedantismo da segunda... ok, ok, chatos de plantão, eu sei que existe todo um contexto, cultural, social, global, whatever... e eu sei que neste post vou acabar dando uma de garota enxaqueca. Mas não parece um pouco patético ter de pedir por amor? Implorar, cobrar, pressionar? Não seria esta uma contradição em si mesma?

Estreitando um pouco os olhos, e afunilando um pouco a questão, me causa até alguma vergonha que o amor tenha que ser solicitado ao invés de ser doado de todo o coração, como sempre aprendemos, desde pequenos, que deve ser. Entre os povos, entre as pessoas, entre os casais - em tempos de relações efêmeras, não basta ser o amor o guia principal das atitudes e comportamentos entre duas pessoas que, hipoteticamente, estão juntas porque se amam.

Não. Sempre existem outros interesses em jogo. São muito mais importantes a vaidade, o orgulho, a superficialidade. Hoje em dia, duas pessoas ficam juntas porque é fácil estarem juntas, uma vez que sem profundidade, não surgem conflitos. E é só. Ponto. Parceiro legal é aquele que não te aborrece, não enche o saco com seus horários, com o que você faz durante seu dia, na verdade pouco importa porque “deve haver individualidade”.

Basta isso, basta que seja um complemento simples e livre de quaisquer problemas. E na iminência de haverem quaisquer tipos de dores de cabeça emocionais, zap! Elimina-se o parceiro como quem joga fora um aparelho celular que às vezes faz um pouco de chiado. E ainda falam de amor!

Falam tanto que os relacionamentos devem ser feitos de troca, e então eu te pergunto: só te amo se você me amar em troca? Falam tanto de haver espaço para a individualidade, de um “não precisar do outro”, e eu acabo ficando na dúvida: quando foi que a individualidade passou a significar egoísmo, falta de parceria? As mulheres que me desculpem, mas em relação a este tópico, a verdade é que eu estou farta desse papinho feminista.

Acho que o mundo precisa sim de mais amor, urgente, agora, asap. Mas pedir por amor vai contra tudo aquilo que o amor traz consigo, que é a doação, a espontaneidade. Quem já amou um dia sabe que não tem nada a ver com troca. Quem ama simplesmente ama, sem grandes motivos que justifiquem este sentimento. Ama porque quer, ou até porque não consegue evitar. Ama e acabou.

Então que todos amem-se uns aos outros sim, adorei, mas (aí sim) POR FAVOR, não desvirtuem a essência de um sentimento tão bonito colocando seus egos no meio. Amor não tem nada a ver com favor. Por mais que rime.