quarta-feira, dezembro 23, 2009

2009, check...?


2009 se encerra de maneira epopéica. Que ano.

Teve deprê, teve alegria, teve crise e teve fartura.

Teve redescoberta.

Houveram muitas horas em que duvidei da minha capacidade e muitas, muitas outras, em que elas foram confirmadas. Mas o que ficou nos bastidores, e que não foi aberto ao público, é que foi preciso um esforço hercúleo pra dominar a ansiedade que batia toda hora em que eu me pus à prova.

Especialmente no sentido profissional – que fodíssima superar a minha própria ansiedade e cuidar das dos outros! O destino, ironicamente, tratou de me mandar, um após o outro, pacientes com transtornos de ansiedade...

Que cara de pau eu tive que ter pra defender algumas dicas de controle emocional que eu mesma desenvolvi pra poder, finalmente, receber alta da medicação... técnicas, estratégias, confiança em mim mesma, às vezes de verdade, às vezes fingindo só pra poder continuar avançando.

Hipocrisia?
Meta!

Um terço da meta profissional alcançada, e que venha o resto pra eu saborear, como dizia o Raul, com amor e com medo.

E por falar em amor e medo... cheguei no fim da listinha bolada mentalmente de Coisas Importantíssimas a Tratar Antes de Um Novo Relacionamento. Que situação, ali estava o último item, tão relegado às traças! Profissão, check!, Saúde, check! Kickboxing, check!, aulas de dança, check!, Projeto Mulherzinha, check!, escrever mais, check!, rancores, check!, amigos, check!

O que mais eu poderia fazer? Criar novos itens e encaixa-los, preguiçosamente, acima da minha vida afetiva? Sapatos, bolsas, pedicure?

Mas a vida dificilmente nos livra de algo que pede para ser cuidado. E os Deuses da Ansiedade me botaram novamente à prova, desenhando na minha frente a possibilidade de fazer diferente e me arriscar num novo relacionamento.

Check?

Tsc tsc!

Nem tudo é tão simples assim, e confesso que abandonar o individualismo, abraçar o companheirismo e CEDER são algumas das coisas mais difíceis que já enfrentei na vida!

Mas vamos em frente, que as listinhas de resoluções de Ano-Novo foram abandonadas há tempos e, pra quem acha que o ano acabou, notícia: ainda há muito a ser trabalhado nestes últimos dias que nos restam...

Avante! Todo bom samurai sabe muito bem: pedra que rola não cria limo.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Acorda Kassab!!!


Da rua em que eu moro até a casa de um pacientinho são mais ou menos 12km. Eu to aqui na Centro-oeste, ele em Moema.

Quando comecei a atendê-lo, uns dois anos atrás, eu saía de casa às 5h45 pra estar lá as 6h30. Às vezes chegava antes e comia uma empada ali na Empada Carioca. Semana passada eu saí as 5h30 e cheguei 20 minutos atrasada.

Hoje, após 5 minutos de chuva, voltei do meio do caminho. Na Radio Sul America (obrigaaaaaaaaada), já noticiavam os primeiros pontos de alagamento na Zona Oeste. A Leste já estava totalmente alagada.

Menos R$60,00 no bolso acaba não sendo nada perto do aborrecimento do carro travar no meio de um alagamento. Pra galera que nunca tem nada, mas quando chove perde tudo, fica aquela broxada e aquele inconformismo de que a 5ª maior cidade do mundo, quando chove, simplesmente não anda mais.

Se eu fosse a responsável por uma coisa dessas, não conseguiria dormir a noite.

Acorda Kassab!!!!

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Duco

Não existem formas de controlar a tristeza quando a esperança de mudar abandona nossas terras. É o conformismo, a resignação, a falta de iniciativa que destroem as nossas crenças. Fazem a gente andar ao contrário, progredir pra trás, voltar pra frente, caminhar em círculos.

Nem tudo faz o sentido que eu gostaria que fizesse, talvez me falte aceitação de que o mundo é o que é e ponto. As pessoas são o que são e ponto. Dificuldades existem e ponto. Mas como abandonar o entusiasmo da crença pela mudança, desta guerra pelo entendimento, e me acomodar, pesada e tediosa, em cima deste ponto?

Acreditar na felicidade como a ausência de tristeza nunca me convenceu. Fazer banquetes de migalhas jamais me satisfez, entendo que talvez todos tenham o que mereçam, os erros são conseqüências de muitos outros, quem enxerga mais deve poder ceder mais. Tem que ser flexível. Tem que admitir, tem que assumir as responsabilidades.

Aceito e acolho que nem sempre seremos felizes o tempo todo, mas também acredito convictamente e com tranqüilidade que se fui eu mesma que me coloquei nesta situação, sem dúvida alguma posso me retirar dela.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Faixa marrom, OSSU!

Pra quem não consegue nem me imaginar lutando, aqui vão alguns momentos bem sucedidos do meu exame de faixa... OSSU!


Yoko Geri (chute lateral na altura do estômago)


Jodan Mawashi Geri (chute circular na cabeça)


Jodan Ushiro Mawashi Geri (chute circular giratório na cabeça)

terça-feira, dezembro 01, 2009

Non ducor...

Eu tenho o costume de não olhar pro lado positivo das coisas e viver procurando defeitos. Não posso dizer que já consegui eliminar meus velhos hábitos, nem tampouco que virei uma otimista inveterada, mas percebo certas coisas evoluindo.

Após 3 anos e meio de treinamento ferrenho nas Artes Marciais do Kickboxing, fui submetida ao maior e mais angustiante teste que uma ansiosa como eu pode vivenciar: avaliação técnica, individual, na presença de mais de 50 pessoas.

Tremi, tive insônia, fiz cocô no banheiro do Barateiro. Minha garganta travou, minhas mãos suaram, chorei no banheiro (ao que parece, o banheiro é o refúgio dos desesperados). Briguei com o namorado. Perceber meu nível de desespero me deixou cada vez mais desesperada.

Uma hora voltei a mim e me pus no meu devido lugar. Parei de chorar e me conformei com a minha dificuldade de enfrentar certas situações, seja um exame de faixa, seja conhecer os amigos do namorado. Ter medo das coisas há muito deixou de me impedir de fazê-las. Segui em frente.

60 minutos depois, cansada, destruída, com hematomas, sem ar, exposta... conquistei a faixa marrom e ganhei o título de Senpai. Entendi finalmente que não me era cobrada a perfeição. Me é permitido errar.

Ainda achando que não fiz o meu melhor (nem no exame, nem no controle da minha ansiedade), procuro desfrutar do alívio do depois, sabendo que muito mais virá pela frente. Como quem ganha 15 minutos de descanso em meio a uma maratona, me resolvi por desfrutar do agora, salvando oxigênio pras batalhas futuras.

Desfrutando do novo título e à espera da faixa marrom que há de consagrar o meu esforço, descubro finalmente que investir e batalhar pelo meu futuro é a forma mais segura de poder prevê-lo: não sou conduzida. Conduzo.

terça-feira, novembro 24, 2009

Brincando de casinha


9 em cada 10 mulheres irão se lembrar, pensando nos tempos de criança, de 2 brincadeiras que absolutamente TODA menina já brincou: “brincar de casinha” e “brincar de boneca”. Na verdade as duas brincadeiras são bem semelhantes: consiste em, basicamente, fantasiar uma série de situações, geralmente domésticas e amorosas, e encená-las, seja com as bonecas, seja pessoalmente.

Os anos vão passando e estas brincadeiras tendem a ser abandonadas, mas toda mulher há de concordar que a essência do brincar de casinha permanece em nossas fantasias, quando imaginamos namorar com este ou aquele carinha, quando nos tornamos adolescentes e nos sentimos quase independentes, quando sonhamos em ter nossa própria casa, quando temos os primeiros namoros de verdade.

Nossos primeiros relacionamentos são o cúmulo da brincadeira de casinha, a gente acha que ama o namorado mais do que tudo nesta vida, faz planos de casar, escolhe o nome dos filhos e o pior: a gente acredita de coração que tudo isso vai acontecer. Com o passar do tempo, a gente segue brincando de casinha, não faz mais tantos planos assim, pois já tomamos o suficiente na cabeça pra não sonhar tão alto, mas secretamente ainda vemos se o sobrenome do namorado fica bem com o nosso próprio nome.

Então chega um dia em que você de repente se dá conta da realidade e não consegue evitar de se perguntar: quando é que a brincadeira de casinha deixa de ser brincadeira e passa a ser realidade? Quando é que a brincadeira assumiu ares mais sérios e resolveu virar verdade, assim, da noite para o dia, e a relação antes descompromissada pede por mais seriedade? Será que é preciso incorporar toda a responsabilidade de uma vida adulta, assumir os verdadeiros compromissos de uma relação a dois, e abandonar o lado divertido da fantasia? Indo mais além: é possível continuar brincando de casinha, mesmo que a relação tenha se tornado uma realidade sólida e indiscutível?

Conheço casais que se desintegraram após o pedido de casamento, ou após irem morar juntos. Parece que transferiram todo o peso da realidade para dentro da relação, e esqueceram de brincar de casinha. A vida diária se transformou num martírio sem fim onde um não corresponde exatamente à expectativa do outro, pois a diferença entre fantasia e realidade é grande demais. Talvez o segredo do sucesso dos casais que permanecem juntos ao longo de muitos anos seja verdadeiramente preservar o lado divertido, leve e brincalhão de seu jogo de bonecas, aquele em que se continua sonhando e morando em castelos encantados a despeito da conta de luz vencer no final do mês. Talvez apenas vislumbrar a seriedade da vida real na hora de dar um jeito de pagar o IPVA no comecinho do ano, mas depois continuar sonhando que o seu Fiat Palio 2003 é, na verdade, uma bela carruagem.

Quem sabe dê pra continuar achando mais importante que seu bebê tenha um quarto rosa ou azul, ao invés de se irá nascer com saúde. Talvez tudo isso nos proteja de certas faces da realidade que são cruéis demais: a falta de grana no fim do mês, o bebê que nasceu prematuro, a insegurança em relação ao marido.

Talvez brincar de casinha seja realmente muito mais gostoso e proveitoso, se não for uma completa negação da vida real. Saber discriminar a fantasia da realidade é um sinal de maturidade, e elemento indispensável para se seguir numa vida adulta e minimamente bem-sucedida. Do contrário, estaremos todos nos enganando.

É como diz a velha frase: intenção sem ação é apenas ilusão. Se a vida é uma brincadeira, brinquemos com maturidade...

terça-feira, novembro 17, 2009

coisas que não voltam atrás

Três coisas que não voltam atrás:

A flecha, quando lançada;
A palavra, quando proferida;
E a oportunidade, quando perdida.

Ah, o tempo. Senhor ingrato do arrependimento!

quarta-feira, novembro 11, 2009

Sinais de que você está envelhecendo


Você compra seu próprio protetor solar
(não pega emprestado da mãe);

Você faz exame de colesterol
(e se preocupa);

Você faz exercício pro bem do seu coração
(e cansa fácil);

Você checa suas finanças quase que diariamente
(e se preocupa);

Você começa frases com "no meu tempo..."
(e não se censura);

Você guarda as papeletas do VisaElectron
(e se preocupa);

Você compra um talão inteiro de Zona Azul
(e dura pouco);

Você fica em Sampa no feriado porque não quer mais pegar trânsito...

... e mesmo assim se preocupa!


PS: Sério, nunca achei que eu teria um talão de Zona Azul. Eu via o da minha mãe e parecia tão distante... coisa de gente grande.

terça-feira, novembro 03, 2009

Em paz com a paz


Andei examinando a minha produtividade literária. Ao longo dos meses, a curva andou decrescendo. Minha cabeça anda meio sossegada de idéias.

Já sabendo que minha criatividade redatória tem tudo a ver com a minha ansiedade, e percebendo que, após a tempestade, meu coração agora vive a calmaria, comecei a achar estranhamente positiva minha falta de ter o que dizer.

Após trancos e barrancos, meu emocional finalmente começa a assentar. Em plena volta do feriadão, eu me sinto em paz.

E uma vez que estar em paz nunca foi fácil pra mim, veio a necessidade de escrever.

Coisa difícil esta, ficar em paz com a paz, após tantos anos de drama.

segunda-feira, outubro 26, 2009

A Depiladora


Outro dia, a Luli discorreu sobre profissões-carrasca. Não me recordo se ela chegou a citar aquela que verdadeiramente me apavora, pelo menos uma vez por mês: a Temível Depiladora.

No lugar onde faço depilação, existem pelo menos 30 depiladoras diferentes (tipo um fast-food da cera quente). E eu, em busca de uma que parecesse mais boazinha, já caí na mão de pelo menos metade delas. Acabei parando na Adenilza, que é a única que já me sorriu ao falar “oi”, e que não parece sentir tanto prazer em cada puxada de cera.

Sim, porque é ÓBVIO que as depiladoras são sádicas por natureza. Ninguém mais suportaria trabalhar o dia inteiro infligindo tanta dor à sua semelhante. Eu imagino que a Adenilza, por mais tranquilinha que pareça, solta altas gargalhadas depois que eu vou embora, se deleitando com o meu sofrimento, e tenho certeza absoluta que ela sonhava, desde pequenina, em ser depiladora.

Deve funcionar como com os médicos, que precisam ser insensíveis, frios e calculistas pra poder clinicar, ou não agüentam. Ou como os psicólogos, que se não forem meio doidos, piram de vez após o primeiro semestre de trabalho.

Com as depiladoras deve ocorrer o mesmo: se elas fossem boazinhas, jamais conseguiriam puxar aquela cola desenvolvida pela NASA que é a tal de cera espanhola. Pré-requisito de depiladora é ser filha da puta.

Não bastasse a posição desconfortável e constrangedora, depilação é algo infernal que exige uma bela dose de boa-vontade. Quando uma amiga me pergunta se tatuagem dói, eu sempre digo que dói menos que depilar virilha completa. Parece drama, mas eu juro: não me acostumei até hoje.

E reclamar que a cera está quente demais nunca adiantou nadinha para mim, nem na forma assertiva (“A cera tá um pouquinho quente”) nem na forma mais sutil (“Ufff! Tá quentinha!”), nem na forma agressiva (“Cacete, tá queimando!”). Tudo o que consegui ao longo dos anos de queimação foram risinhos de soslaio como quem diz “Dói, né?”. Dane-se, elas nunca estão nem aí pra você e se você está sendo escaldada viva. E o foda é que, doendo ou não, sendo carrascas ou não, todo mês você tá lá, desmatando o terreno. Todo mês. Todo mês. Todo mês (dízima periódica).

E é justamente por isso (pela dor e pelo constrangimento) que eu acho que depiladora deveria ser fofa, simpática e bater papo como fazem as manicures (que, à bem da verdade, nem precisariam ser tão faladeiras assim, já que fazer unha não dói nadica de nada). As depiladoras deveriam passar por um crivo tipo assim a OAB, e o pré-requisito fundamental deveria ser ter um bom coração.

Quando você chegasse, em vez de um “vai fazê o que?”, você escutaria um “o que é que vamos embelezar hoje?”. E em vez de “assim você me atrapalha!”, elas diriam “já já te trago aquele cafezinho”. Você bateria papo e elas seriam confidentes, exatamente como a minha manicure, a Márcia, que sabe tintim por tintim da minha vida (já a Josi eu nunca gostei muito, ela faz a minha sobrancelha...).

Mas aí a gente volta pro começo: se fossem fofas, não seriam depiladoras, seriam manicures... A verdade é que eu tenho pânico da Adenilza e ando pensando em levar uns chocolates pra ela. Quem sabe ela pára de me cutucar com aquela pinça e vê que ali, deitada na maca com uma cera borbulhante nas partes baixas, está um ser humano bom e generoso, e não uma boneca de treino de primeiros-socorros.

Ou talvez eu coma os chocolates da Adenilza quando a dor infernal acabar e eu precisar de um pouquinho de prazer, pra tolerar voltar lá no próximo mês. E no próximo. E no próximo. E no próximo (dízima periódica).

domingo, outubro 18, 2009

É ferida que dói, e não se sente...


Quando ouço dizerem que gente feliz é sempre mais bonita, internamente sou forçada a discordar. Algo em mim sempre achou a tristeza mais bela, o olhar sofrido mais marcante, lágrimas mais elegantes do que sorrisos.

A tendência pela melancolia: pra mim, amar sempre foi sofrer. Não, não me refiro a platonismo. É que em mim o sofrimento sempre foi a expressão mais bela do interior de uma pessoa.

Não só de Byron me alimentava a alma, não só em Álvares de Azevedo encontrava sentido na minha sensação de que amor e dor não rimam só na poesia. Quem ama sofre, pois para o que ama já não basta amar: se deseja adentrar o corpo do outro, invadir suas entranhas, dominar sua mente e sua alma, apagar seu passado, controlar suas memórias, se apossar de seus sentimentos, manipular suas emoções. Deseja-se fundir-se ao Eu do outro em busca de mais, sempre mais.

Não basta ser Nós.

Há de ser Uno, há de ser místico.

Amar é doer.

E amar dói não pelo medo, não pelas defesas. Amar dói mesmo quando se é reciprocamente amado de volta. É uma dor tão fina, coisa assim tão bela, que vale a pena amar só pra sentir essa agonia inexplicável de que o amor já não cabe dentro de si. Se quer explodir de tanto sentimento, se quer sangrar e aliviar a pressão interna do peito que bate e grita exigente enquanto é docemente corroído.

O amor é vermelho como o sangue.

Da modernidade ao ultra-romantismo, me reduzo ao classicismo ao concordar com o poeta*: é ferida que dói e não se sente, é um contentamente descontente, é dor que desatina sem doer...

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*Luís Vaz de Camões, 1595. "... um não querer mais que bem querer / é um andar solitário entre a gente / É nunca contentar-se de contente / é um cuidar que ganha em se perder / É querer estar preso por vontade / É servir a quem vence o vencedor / É ter com quem nos mata lealdade / Mas como causar pode seu favor / nos corações humanos amizade /se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


quarta-feira, outubro 14, 2009

Projeto Mulherzinha 2009 - updated!


O Projeto Mulherzinha 2009 vai de vento em popa, obrigada.

Vai tão bem que tem contagiado gente por aí. É sério!

A Antonella, do grupo de dança, andou por aí pintando as unhas do pé de vermelho, coisa que jamais havia feito na vida (eu entendo porque também nunca consegui essa proeza sem me sentir biscate); a Luli tem investido em SMS’s poderosas e românticas; a Ka outro dia se disse “completamente apaixonada tudo girando feito um carrossel” no maior estilo brega Marcelo Augusto; a própria Elis tem achado cedo demais pra relaxar diante do maridão turco, e corre na boca miúda que a Nesrine, que também dá aulas de dança lá na Elis, também anda repensando seu vestuário de dar aulas (parece que uma aluna chegou de meia furada e ela se sentiu um mau-exemplo).

Quanto a mim, não poderia estar dando mais certo: minha fascinação por dança do ventre tem crescido de maneira inversamente proporcional ao meu desempenho e tesão nos treinos de kick; meus esmaltes estão pendendo prum tom assim mais cor-de-rosa, e outro dia – pasmem – eu até comprei um vestido que tinha uns lances meio rosados (ohhh!!!).

Minha TPM, até então sempre suave, me atacou com força total este mês, com direito a cólicas jamais sentidas na vida, espinhas all over e crise de tristeza, choro e insegurança sem qualquer motivo aparente. Sobrou até pro namorado.

É, NA-MO-RA-DO. To tão mulherzinha que até esse meu lado já foi totalmente assumido, com foto no Orkut e tudo (tá certo que eu acho o Orkut a maior palhaçada que existe, mas to lá, as amigas não querem que eu saia, então...). É isso, mundo, EU TENHO SENTIMENTOS!

Pra resumir, é descontrole de estrogênio total. Só falta eu usar estampa de oncinha – mas isso eu já falei pra Elis, esse ano ainda não vai dar.

segunda-feira, outubro 05, 2009

60 segundos


Os dias têm passado rápido. Talvez até rápido demais, rumo ao novo ano que nos espera. Pulamos de vez rumo ao Natal, com exatos 81 dias de antecedência. Mais um piscar de olhos, e fogos de artifício já estarão no céu. O Brasil inteiro comemora 2016. A passagem mais rápida do tempo não tem sido observada apenas por mim. Cientistas fazem teorias sobre a rotação da Terra, sobre as novas dimensões; gente afirma que o dia não tem mais 24 horas, gente diz que um minuto já não tem sessenta segundos, tem teoria que diz que, quanto mais velhos ficamos, e mais conhecido o mundo se torna, mais rápido parece que o tempo passa - pois o tempo não existe, existe é a contagem do tempo, a nossa percepção sobre ele. (Percepção: sentidos + interpretação) Nossos sentidos continuam intactos... a velocidade das coisas inexiste. Mudou nossa interpretação? Mudou minha maneira de ver as coisas? Meus minutos já não formam horas – formam dias. A agenda mudou ao longo dos anos. Minha semana deixou finalmente de ser um martírio sem fim rumo ao sábado e domingo, quando a vida realmente acontecia. Agora a vida acontece. Os dias mais belos, coloridos, amáveis, transformando a passagem das horas num escorrimento indelével do tempo rumo ao fim dos meus tempos. Cada dia a mais, um dia a menos. Metamorfose. A memória, que persiste. Ah, o tempo... finalmente um aliado.
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(De repente se torna surpreendentemente cedo e precipitado fazer uma retrospectiva)

quarta-feira, setembro 30, 2009

A vida como ela é

Diante de situações desconfortáveis, a gente sempre tem duas opções: se entregar à angústia, ao incômodo, à ansiedade, ao desespero, à irritação... ou encontrar maneiras de confrontar nossos sentimentos e pensamentos negativos usando dados de realidade.

A verdade é que a realidade dificilmente é tão ruim quanto nossas fantasias deprimentes teimam em apontar quando não estamos lá muito bem.

Reconhecer que nem sempre as coisas serão como esperamos, respirar fundo e tolerar as frustrações inevitáveis do nosso cotidiano costuma trazer algum conforto. Brigar contra a realidade dificilmente melhora nosso estado de espírito. Temos que nos aliar à ela.

Tudo nessa vida é uma questão de escolha – e eu escolho me sentir bem. Nem que seja escolhendo permanecer exatamente no lugar onde estou, fazendo o que escolhi fazer, e simplesmente aceitar com tranqüilidade minhas limitações diante da vida como ela é...

sábado, setembro 26, 2009

Amputação



Enquanto o coração atingia os mil batimentos por minuto, sua cabeça girava a uma velocidade impressionante. Atravessou a porta com fervor, a ânsia de saber o que aconteceria quando por fim o encontrasse. Procurou com os olhos por entre aquelas trinta e tantas pessoas, e por fim o avistou. Os olhos azuis denunciavam uma tristeza legítima que ela jamais havia visto. As conjuntivas lhe pareciam assim meio vermelhas, os ombros pareciam caídos como quem não suporta mais seu próprio peso.

Beijaram-se. Levemente, como que para se reconhecerem. Ainda eram eles?, sequer os lábios pareciam os mesmos. As gargantas jaziam secas. As mãos não se entrelaçaram. Instintivamente, afastaram-se, como quem é repelido por uma espécie de choque elétrico que causa uma tensão invisível, porém iminente.

Naquele momento, soube.

Deambulou pela casa estranha cheia de risadas, como um morto-vivo à procura de um jazigo. Precisava descansar. A cabeça girava ainda mais intensamente, a respiração falhava, os pensamentos descarrilhavam dentro de si. Uma torrente de sentimentos desconexos a inundou e então chorou como precisava há dias. A crise de ansiedade a alcançou e milhares de imagens passaram em sua mente a cada segundo: esperas, demoras, atrasos, desculpas, crianças, álcool, telefonemas. Justificativas. Pretextos e contextos ilusórios nos quais escolhera acreditar por pura falta de opção.

Quando a sala por fim terminou de girar, ergueu a cabeça e piscou os olhos já borrados de rímel. Uma coragem súbita sacudiu seu corpo, uma lucidez quase obscena lhe atordoou, e ela soube que era hora de se despedir. Sabia que já não fazia sentido exigir suas desculpas nem sequer apresentar as suas – só precisava abandonar aquele cenário, aquele palco tétrico daquela peça já um tanto ultrapassada. Nada mais que falassem importaria tanto quanto o resgate de si mesma, nada era tão urgente quanto o profundo desamor por si de que deveria se livrar.

Nada era mais fundamental do que voltar à sanidade mental que aquele amor lhe roubara, e por isso o abandono era assim tão importante: precisava arrancar aquela página, extirpar todas as suas lembranças e atear-lhe fogo, como se jamais houvesse existido. Precisava exorcizar aquele demônio, extrair de si aquele câncer, aquela parte necrosada de seu coração que ameaçava contaminar todo seu corpo; precisava rasgar suas entranhas infectadas e violar seus compartimentos mais profundos afim de salvar o resto de sua fé, mesmo que lhe restassem profundas cicatrizes.

Tocou-lhe os ombros cansados e disse que estava indo. O ar dele foi de um cansaço, de quem já esperava algo que por fim ocorreu. Um carinho no rosto e um beijo nas mandíbulas foi tudo o que ela pôde lhe oferecer naquela hora já carregada de saudades.

“Seja feliz”.

Ele entendeu.

Ela anuiu.

Amputara-lhe.

terça-feira, setembro 22, 2009

câncer


Ultimamente, tenho sido rondada pelas doenças. Muitos à minha volta estão com alguma doença relativamente grave, de necessidade cirúrgica, complicadas. Uma delas tem batido cartão no meu cotidiano: pessoas que conheço vêm sofrendo com câncer.

Tem estado em todo lugar: parentes, pacientes, parentes de pacientes, conhecidos. Pessoas famosas. Políticos. Roteiristas de novelas. Médicos. Parece que ter câncer é quase como que ser fiscalizado pela Receita: volta e meia acontece e você não estava preparado pra isso.

O câncer aparece e te dá um murro na boca. Invariavelmente, a sombra da morte rodeia o doente. Só de falar o nome já provoca arrepios e imagens mentais sombrias: quimioterapia, cabelos caindo, funeral. Vômito.

Difícil segurar essa barra sozinho, e por mais que existam pessoas pra apoiar, parece que não faz a menor diferença: quem tem câncer se sente na roleta-russa. Uma destas pessoas que citei, com câncer tireoidiano, resolveu não contar pra ninguém que está doente, apesar do bom prognóstico. Os pais e irmão sabem, mas ela se recusa a contar para os amigos e amigas. Outra pessoa que conheço, com câncer na garganta, também adotou a mesma medida e guardou segredo da informação. O câncer é a imagem da fragilidade, ninguém quer se sentir assim tão vulnerável, ninguém quer ser alvo de pena que, invariavelmente, aparece.

Com tanta gente assim doente ao meu redor, é inevitável que eu mesma não reconheça em mim um certo temor da morte. Para ficar doente, basta ser humano. Para correr risco de morte, basta estar vivo. Para adoecer, basta se expor ao sol, comer alimentos não tão saudáveis, basta fumar um cigarro, respirar o monóxido de carbono da 23 de maio. Basta que existamos sem nos cercar de tantos cuidados que deixem nossa vivência a cada dia mais pesada, a cada dia mais mortal.

E se eu adoecesse?

Teria arrependimentos, medo da morte, desejos de voltar no tempo? Teria eu tranqüilidade de que vivi minha vida plenamente, realizando todos os desejos que um dia tive? Estaria eu com a consciência tranqüila de que cada minuto foi vivido com legitimidade, com autenticidade, com vontade? E quanto aos familiares e amigos? Eu contaria que estou doente? Pediria ajuda? Me despediria do meu companheiro? Faria um testamento? Ou apenas esperaria o futuro certeiro, em relação ao qual muito pouco poderia ser feito, já que a crença em níveis superiores me leva a compreender o início e o fim dos ciclos?

Vida e morte, saúde e doença . Confiança e receio.

Medo.

domingo, setembro 20, 2009

_perfect match

I´m really glad I found you :)

quarta-feira, setembro 16, 2009

Elo


Depois de tanto tempo sem te ouvir, não foi surpresa nenhuma que tua voz me soasse estranha. Não fosse teu nome aparecer na bina do celular, não te teria reconhecido, mas teu timbre familiar logo me trouxe de volta para casa. Ouvir você foi um presente inesperado e, por isso mesmo, delicioso: não houveram silêncios constrangedores, sua risada continua gostosa como sempre, nossas brincadeiras ainda são as mesmas – nossa sintonia continua fina, como sempre foi.

Se nos perdemos no meio desses jogos modernos eu já não sei dizer, talvez tenhamos nos rendido à modernidade das relações e acabamos nos confundindo. Talvez nossa admiração mútua, nossa disponibilidade simultânea, nossos gostos tão parecidos – talvez tudo isso tenha nos reunido no momento em que sentimos, os dois ao mesmo tempo, que devíamos nos unir a alguém. Por que não nos unirmos então, e fazer uso desta afinidade tão especial?

Não doeu tanto quanto pensei que doeria quando por fim nos afastamos; acho que porque ambos percebemos que não fazia mais sentido estarmos juntos de uma maneira tão lasciva e superficial – isso desvalorizaria qualquer coisa mais bonita e sincera que um dia havíamos tido. Senti tua falta durante todos estes meses, mas a magia que existe nisso tudo é que senti saudades da sua amizade, da tua gargalhada, da tua ranhetice característica, de quando você é ranzinza e mal-humorado daquele jeito que só você sabe ser. Senti falta das tuas críticas e da tua sistematização do mundo, e ter tido tua amizade de volta ali, por alguns minutos, valeu todo o tempo em que tivemos que nos afastar pra cada um retomar suas vidas.

Hoje senti que nossa relação cicatrizou e voltou fortalecida. Valeu realmente a pena a distância. Acolho teu carinho como sempre fiz, e te dou minha amizade em troca como um sinal eterno: não importa onde ou com quem estejamos, o nosso verdadeiro afeto um pelo outro é o elo único que nos manterá sempre unidos, esteja você aqui por perto, esteja você longe de mim.

domingo, setembro 13, 2009

Palavras


Quando eu me calo, não é por falta de ter o que dizer. O meu silêncio é a expressão mais sincera dos meus sentimentos: o meu silêncio diz tudo, dentro do grande nada que parece ser a princípio. As palavras nada mais são do que uma definição estreita de uma profusão sentimental que a grande maioria das pessoas acha que não pode ser expressada de outra forma. Ledo engano: a expressão verbal é apenas uma das possibilidades, talvez a mais limitada delas.

A palavra é definida, e por ser definida, limitada. Como podem algumas letras reunidas numa determinada ordem criar um fonema específico que traduza emoções que eu ao menos sei reconhecer? Como dar nome aos bois, se esse é um rebanho diferente de todos os outros que já conheci um dia? Seria justo encaixar esse novilho tão especial numa única e limitada categoria?

Nomear sentimentos exige que eu os racionalize, que eu os passe pelo crivo da razão, da lógica, da linguagem, que eu os reduza a um som genérico e impessoal, que eu os encaixe, tal qual a um Leito de Procusto, num vocábulo previamente definido por alguém que nunca nos conheceu de verdade. Nada aniquila mais o encanto do que minimizar à uma palavra insossa a imensa graça que é sentir algo que nem ao menos sabemos dizer o que é.

Da mesma forma que um gesto, ou uma ação, ou uma imagem valem mais do que mil palavras, relativize também este texto – simplesmente não é possível expressar através da escrita o que se passa aqui dentro. Se eu pudesse, uma palavra pra você eu inventaria. Eu criaria todo um novo dicionário, novos verbos, diferentes conjugações onde só figurariam duas pessoas, Eu e Você, e apenas um tempo verbal: o Presente Perfeito.

Por favor, não hostilize meu silêncio, não me peça para falar, pois não importa o nome que você quer dar, ou o rótulo que utilizemos, qualquer palavra vai ser sempre insuficiente pra transcrever com exatidão como eu me sinto com você.

terça-feira, setembro 08, 2009

Intimidade



Quem nessa vida já teve ao menos um relacionamento afetivo sabe que, em boa parte das vezes, é chegando mais pertinho que se desencanta. Como aquelas modelos maravilhosas que, se você colocar debaixo de uma lente de aumento, vai enxergar como ela realmente é: a pele, de pertinho, tem uns cravos; o cabelo maravilhoso é duro de tanto spray. Ela não é tão legal, tem bulimia, uns pés horríveis ou outras coisas do tipo.

Eu, pessoalmente, sempre acreditei e bradei por aí que a intimidade destrói uma relação, e que qualquer relacionamento se mantém muito mais sadio se certa distância for preservada. Não sei se, no fundo, isso não dizia somente a respeito de mim mesma, e se eu, a bem da verdade, não julgo a minha própria intimidade extremamente desinteressante.

Depois de alguns anos de reclusão e de pensamentos do tipo cada-um-na-sua-canga, parece que as lentes cinza da amargura aos poucos foram sendo levantadas, e as partes legais da intimidade foram sendo finalmente redescobertas. É absolutamente fantástico sair da superficialidade massacrante do nosso dia-a-dia, em que todos se encontram vestidos elegantemente dos pés à cabeça, cheirosos, os cabelos sem um fio fora do lugar, o sorriso ensaiado no rosto e o programa feito: cinema e jantar, exatamente nesta ordem. Isso basta durante algum tempo, até que você se encha e diga: quero mais, quero aprofundar.

Aprofundar é improvisar. É não ter script, não ter roteiro, não ter nada planejado e nada sob o seu controle. É simplesmente desfrutar da dinâmica complexa de uma relação sem que nada a alicerce a não ser o desejo da proximidade. Sem plano B: de repente chove e todos os planos que você fez têm que ser reformulados. Se vira nos 30 – quem sabe faz ao vivo, e o que é verdadeiro simplesmente é espontâneo.

A intimidade pode ser muito legal, porque intimidade não tem absolutamente nada a ver com as aparências, e sim com autenticidade, com essência. Sem máscara nenhuma você finalmente entra em contato, e eu, que andava com medo da intimidade, descobri que de pertinho tudo fica beeem melhor.

As pessoas são muito mais interessantes vistas de perto, porque de perto você vê por dentro. De perto você sabe que Fulano tem umas coisas engraçadas que, no “script” cotidiano, não aparecem. Você vê que Sicrano fica lindo ao acordar; você vê que Beltrana come assim ou assado. Você vê que, no fundo no fundo, todo mundo se parece um pouco, e que é justamente as nossas especificidades que vão fazer a diferença na hora de você bater no peito e dizer: esta pessoa é o máximo e eu gosto dela.

Os “erros de gravação” são sempre a parte mais legal do filme. A gente vê como poderia ter sido, a gente vê os atores rindo de verdade. O ensaiado não tem graça, é puro estereótipo. Eu, pessoalmente, sempre desconfiei de tudo o que me parecesse muito perfeito, e não é justamente o caráter tão humano o que me encanta nas pessoas? Suas particularidades, manias, pentelhices, idiossincrasias (!).

Adoro todas elas pelo simples fato de serem tão reais. Humanas, demasiado humanas. A intimidade só é capaz de destruir aquilo que, ao invés de se basear na realidade, se baseia nos ideais utópicos de perfeição, beleza e simetria.

Abaixo o Ideal! O real é o máximo, e somente a partir da intimidade podemos verdadeiramente desfrutá-lo.

quinta-feira, setembro 03, 2009

ebulição

No momento em que eu ia partir, eu resolvi voltar.*


Vou voltar
Sei que não chegou a hora
De se ir embora
É melhor ficar
Vou ficar
Sei que tem gente cantando
Tem gente esperando
A hora de chegar
Vou chegar
Chego como as águas turvas
Eu fiz tantas curvas
Pra poder cantar
Esse meu canto que não presta
Que tanta gente então detesta
Mas isso é tudo que me resta
Nessa festa
Vou ferver
Como que um vulcão em chamas
Como a tua cama
Que me faz tremer
Vou tremer
Como um chão de terremotos
Como o amor remoto
Que eu não sei viver
Vou viver
Vou poder contar meus filhos
Caminhar nos trilhos
Isso é pra valer
Pois se uma estrela há de brilhar
Outra então tem que se apagar
Quero estar vivo para ver
O Sol nascer
Vou subir
Pelo elevador dos fundos
Que carrega mundos
Sem sequer sentir
Vou sentir
Que a minha dor no peito
Que eu escondi direito
Agora vai surgir
Vou surgir
Numa tempestade doida
Pra varrer as ruas
Em que eu vou seguir...


* O Homem - Raul Seixas e Paulo Coelho, 1976.

segunda-feira, agosto 31, 2009

Here comes the sun!


Tem gente que não liga muito, mas pra mim faz a maior diferença: nada me anima mais do que um dia de sol. Especialmente se for de fim de semana, embora seja igualmente muito melhor trabalhar num dia de sol do que com um tempo cinza como estava.

O inverno deste ano me pareceu mais longo, mais frio e mais chuvoso do que o habitual. Ta, talvez somente em relação ao do ano passado (não lembro do inverno de 2007), mas ouvi muita gente reclamar da mesma coisa. Eu lembrava que, nesta mesma época do ano, no ano passado, já tava rolando um calorzinho bacana, e eu tava realmente ficando deprimida com aquelas garoas tipicamente paulistanas.

Mas não! A primavera está aí, o sol ainda existe e já ta dando pra abandonar os sapatos fechados e recolocar os vestidinhos frescos e fofos do verão. Melhor ainda: ta dando pra sair ardendo da praia após algumas míseras horinhas de sol sem ter reaplicado o protetor. Maravilha!

Agora começa aquela época fantástica em que a gente retoma as viagens pra praia religiosamente todo final de semana, vai preparando a pele pro verão, come menos, emagrece e tem mais vontade de sair de casa e expor a figura na Medina. Fica todo mundo mais feliz, relaxado, bonito, aquecido.

Chega das noites intermináveis de solidão invernal nas quais tudo o que se quer fazer é ficar deitado em meio aos edredons.

Viva o verão, o sol e o calor humano!

.

.

.

Não? Não tá todo mundo mais feliz? Hm, então devo ser eu ;)

sexta-feira, agosto 28, 2009

Done


Tem horas que abandonar o jogo é a forma mais honrada de vencê-lo.

segunda-feira, agosto 24, 2009

excessos


O fim de semana foi ok.

Showzinho do Effe sexta-feira num barzinho, acompanhada de um bando de doidinhas; feijuca da Mama ocupando todo o sábado, com direito a pança lotada e desconforto abdominal; curso de make-up no domingo seguido de rombo na conta bancária e cervejas além do necessário na hora de assistir o jogo do Timão, que acabou não passando na TV, o que significou: “Ok, garçom, NEXT!”.

O domingão acabou às 23h30 e eu estava derrubada na cama assistindo Bridget Jones. A voz da maquiadora que deu o curso veio na minha cabeça: “Sempre retire os excessos”. Ok, ela falava de pó compacto a mais no pincel. Mas eu pensei em outros excessos.

O fim de semana foi TODO excessos. Excesso de barulho e cerveja na sexta, me causando dor de cabeça no sábado. Excesso de comida no sábado, me roubando o bem estar do domingo. Excesso de euforia (e mais cerveja) no domingo, me causando ressaca moral.

Sempre retire os excessos”.

O meu excesso foi causado pela falta. A ausência gera sintomas imediatos de abstinência e me leva à compulsão. Me excedi física e emocionalmente, sem a menor sombra de dúvida, em todos os sentidos da palavra. Os sentimentos eram todos excessivos: muita ansiedade, muita desconfiança. Saudade até as tampas. Raiva e carinho ao mesmo tempo. Insegurança.

Com a segunda-feira, tem início também uma limpeza geral. Ordem na casa.

Não gostei de mim mesma excessiva assim, sinto que me violei, perdi o controle, saí da linha. Meu corpo sentiu o desgaste de noites mal-dormidas e de comida e bebida além do desejável; minha mente e meu coração estão intoxicados pela batalha eterna entre razão e emoção.

Vou transbordando de lembranças. Memórias em demasia - a ausência catalisa o que sentimos.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Vai se F%$&*#@!


Quem me conhece sabe: o mesmo tanto que eu sou diplomática, eu sou extremista. E como aqui é lugar de desabafo, eu resolvi soltar mesmo o verbo: a última reportagem da Veja São Paulo me deixou ARRASADA.

Primeiro, é que eu odeio a Veja. Depois, se liga na matéria: “Profissão Mendigo”. Ao que parece, ser mendigo agora virou uma 'opção', e tem até neguim que se finge de paralítico pra tirar uma grana. Ok, é claro que eu já tinha ouvido falar sobre esse tipo de palhaçada, mas ter visto as fotos do velho andando bem bonitão empurrando a cadeira de rodas me deu ânsia de vômito.

A tal da velhinha da reportagem, que fica na esquina pedindo uma grana, faz compra toda semana no Pão de Açúcar, que nem eu freqüento. Eu que ralo todo santo dia, que estudei pra caralho pra ter um trampo, eu faço compra naquela merda de Futurama, que eu já acho caro.

O outro maluco pendura um cartaz religioso no pescoço e paga pau de santo, apelando pras crenças das pessoas. Depois enrola o cartaz debaixo do braço, saca o celular do bolso e faz uma ligação. Tranquilo - pode enganar que Deus perdoa, apaga o pecado rezando pra santa! Filho da puta, vai tomar no cu!

É escroto que, hoje em dia, ser solidário é a mesma coisa que ser OTÁRIO. É foda ver gente apelando pro nosso sentimento de compaixão pra tirar toda a vantagem que puder. No fim do mês você ainda recebe ligação da Televida pedindo sua contribuição pra ajudar criança soropositiva e... vai lá, trouxa, solta aí mais vintão! Se tem criança mesmo naquela merda você nunca vai saber mesmo.

Eu sempre achei que esse papo era conspiratório demais, mas foi foda ter visto as evidências. Nunca me senti tão otária na vida. Deu vontade de pegar o tal velhote e encher ele de porrada até ele ficar MESMO paralítico.

Foda. Ter vontade de bater num velhote não é bem um sentimento nobre. Vou então quebrar a cara do repórter da Veja por ter esfregado na minha cara essa realidade de merda.

Como diz um amigo meu, tamos cercados de comédia. E comédia é mato!

Foda-se. Vou meditar.

terça-feira, agosto 18, 2009

ansiedade, feminino e aula experimental


Quando cheguei no estúdio da Elis Pinheiro, por volta das 17h20, meu coração estava praticamente saindo pela boca. Já tinha trocado SMS com a Luli, já tinha praticado a respiração diafragmática, já tinha descatastrofizado o pensamento, mas nada tinha adiantado: eu ia ter minha primeira aula de Dança do Ventre e estava mega ansiosa!

Mil coisas passaram na minha cabeça: desde a minha dificuldade em interagir em ambientes novos até mesmo como minha barriga pareceria na hora que eu a balançasse pra lá e pra cá. E vamos combinar: imaginar nosso abdômen se curvando como uma minhoca não produz nenhum efeito relaxante...

Eu cheguei lá e a primeira impressão foi ótima, desde o jeitinho do estúdio até mesmo a simpatia da recepcionista Natália, com a qual eu vinha trocando emails quase que diários. E quando eu conheci a professora Layla tratei de relaxar geral: aquela tampinha de 1,50m, toda tatuada, com um cabelo vermelho na bunda não poderia ser assim tão aterrorizante!

As surpresas só foram aumentando: a Layla é uma fofa e por causa da chuva que caiu bem às 5 da tarde, a aluna que estava programada pra ir junto ficou presa no trânsito, o que significou que eu tive a Layla só pra mim durante 1 hora e meia. Simplesmente TUDO o que uma pessoa tímida, ansiosa e paranóica como eu poderia querer. Valeu, Universo!

Os movimentos são difíceis, mas graças a Deus, alguns não tão difíceis quanto outros. A professora teve toda a paciência do mundo e, no final da aula, até que me elogiou. Segundo ela, eu já tenho “consciência corporal”. Hm. Pelo menos a corporal eu tenho! Eeee!

Fazer os “oitos” com os quadris foi difícil, mas no final da aula eu já não me sentia tão patética. Não posso negar que em alguns momentos, queria sumir dali. Sair correndo gritando, dando socos no ar, que é algo bem mais fácil e que eu já sei fazer. Mas como eu vinha refletindo por aqui, se não fosse tão difícil exercitar meu feminino, também não seria tão necessário. E lembrar disso, de que só estava sendo FODA porque realmente precisava ser praticado, foi o que me sustentou ali durante aquela aula.

Resumo da ópera: AMEI! Semana que vem vou fazer mais uma aula experimental, com outra professora e num outro horário. Aí decido e começo de verdade! O Projeto Mulherzinha 2009 está com tudo! Com direito a lombar dolorida, Amr Diab no som do carro e mensagens de texto românticas sendo salvas no chip do celular!

Salamalleykum!

sexta-feira, agosto 14, 2009

Síntese



Dizem que quando um ser humano se encanta, ele fica assim, abobalhado.

Dizem também que, quando o coração fala, a boca silencia.

E também dizem por aí que é tão comum esquecer o rosto da pessoa pela qual você está interessada...

Basta então dizer que, enquanto todos os sinais se mostram amarelos e o passado rodeia meu caminho, eu ando assim meio boba, assim meio calada, e nem sequer me lembro ao certo do rosto deste tal que me encantou... :)


“Por favor não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente,
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há o que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito, amor.”
(Mario Quintana)

quarta-feira, agosto 12, 2009

hora de parar?


Das coisas mais difíceis desta vida, a que continua me impressionando é a enorme dificuldade que os seres humanos possuem de distinguir entre um teste de perseverança e uma segunda chance.

Quando é hora de entender de uma vez por todas que uma determinada coisa não irá funcionar, que não importa o quanto você possa tentar, o quanto você possa querer, a coisa está inevitavelmente fadada ao fracasso?

E quando é hora de largar o osso, esquecer o orgulho, e arriscar novamente, colocando em risco toda a esperança do acreditar, mas numa sincera tentativa de fazer valer a pena?

Quando é que, afinal, um sinal amarelo significa “freie, não dá mais”, e quando é que ele realmente diz “se você acelerar agora, ainda dá tempo”?Do que depende, por fim, nossa tendência por um ou outro lado? Seríamos ingênuos ao acreditar que “vai ser desta vez”? Seríamos derrotistas por não tentar novamente? Estamos realmente convencidos do derradeiro fim daquilo que já morreu dentro de nós?

Quando é, afinal, a hora de parar?

Creio que, em última análise, o Eterno Retorno continuará a retornar, enquanto as dúvidas do âmago do nosso ser continuarem a borbulhar...

sábado, agosto 08, 2009

waste of make-up

In fact, it really was...

segunda-feira, agosto 03, 2009

perdão

Para J.


Revirei minhas memórias em busca de nós dois. Isso nunca me fez bem. Vasculhei minhas lembranças tentando resgatar esse mínimo de mim, tarefa ingrata. Olhei as nossas fotos. Ali, escondidas nas pastas ocultas do PC, jaziam elas, esperando que um dia pudessem ser novamente admiradas, livres de toda a mágoa.

Respirei fundo pra continuar nesse caminho sem volta de apagar você. Ali estávamos nós, sorrindo diante do que o futuro, esse cruel, nos reservava. Olha nossos olhos – os verdes e os azuis, zombando da realidade. As palmeiras, a areia e o mar, fazendo coro: aqui somos felizes. Ah, que se a gente imaginasse o quanto a realidade ia por isso nos castigar.

Voltei as vistas para aquela, aquela uma em particular em que nos flagraram nos mirando. Naquele olhar eu percebi que foi tudo de verdade, gostei de você e você gostou de mim, embora tão efêmero. Jamais houvera a intenção de machucar. Naquele instante acreditei: não houve nenhum vilão e nenhum mocinho, nunca houveram os culpados que eu cismei em acusar.

Éramos só nós, seres humanos imperfeitos nessa arte desengonçada de se relacionar. As fotos mais recentes traziam olhos diferentes, que já previam o final e já viviam nosso luto. Sorri ao perceber que nosso olhar já não olhava a câmera – olhava pra dentro de nós dois, tentando se perdoar.

Já faz tempo,
E já é hora,
O ressentimento foi embora,
Deixou saudade em seu lugar.

sábado, agosto 01, 2009

Luta


Quando a campainha toca e começa a luta, todo o resto perde o sentido. Nada do que acontece lá fora faz mais a menor diferença. Um lutador costuma agir por instinto, jamais com a razão. Quem entra numa luta entra pra ganhar – perder não é uma opção. Vale à pena estudar o adversário antes, vale à pena revisar nossos erros técnicos. Vale à pena rever nosso portfólio - tem tantas lutas que não foram ganhas porque ficamos inseguros demais para ganhar e cravamos nossa derrota; teve luta que ganhamos porque, a bem da verdade, o outro não era tão bom assim e só por isso parecemos ser superiores aos olhos alheios.

Ganhar ou perder não tem a ver com ser melhor ou pior. A gente tem que ser durão sim, e não se intimidar com o passado aparentemente invicto do adversário, mas se a gente usar o coração e enxergar o outro com respeito e afeto, tudo fica mais leve – quem luta de verdade jamais sobe no ringue pra brigar, e sim pra se divertir. Suar, gingar, fazer um jogo de pernas. Jamais ficar em posição em que nosso equilíbrio fique comprometido, nunca, jamais, dar um passo longo demais que desestabilize o nosso eixo. Saber mexer bem a cintura, saber manter o nível da respiração constante pra acompanhar o ritmo do oponente. Não se trata de apenas se defender o tempo inteiro - tem que ter agilidade pra prever os movimentos alheios, tem que ser flexível para se esquivar, tem que ser rijo o bastante pra que o golpe que entrar não te leve à lona de uma vez. É preciso ter serenidade pra que o baque do momento não te leve a nocaute.

Quem nunca apanhou na vida não tem a menor chance. A ingenuidade arruína a destreza de qualquer lutador. É preciso assumir riscos e tentar novos movimentos, mesmo que isso abra chance pro azar. Aquele que teme as cordas está fadado ao fracasso, mas quem já se apoiou nelas sabe que ali pode ser um bom lugar para virar o jogo. Todo lutador deve ser amigo das cordas, amigo da lona, amigo dos golpes – a diferença entre um vencedor e um perdedor é que o vencedor já perdeu e superou; o perdedor é aquele que teme a derrota.

Ter medo de se relacionar é natural e inevitável. Ninguém disse que esse jogo da vida seria muito fácil. Os nós dos dedos já estão marcados, a pele já está meio roxa, as pernas querem parar. As cicatrizes são inevitáveis e os minutos do relógio continuam correndo. Finalmente entendi que alguém sempre sairá machucado quando se trata de amar, mas neste momento de solidão tudo o que eu quero é apenas ver o round acabar, encerrar este jogo, baixar a minha guarda e cumprimentar meu oponente. Eu quero parar de lutar, pendurar minhas luvas e descer do ringue, para então, com muita leveza, sair por aí e dançar.

quinta-feira, julho 30, 2009

Ops...


I did it again...

quarta-feira, julho 29, 2009

De dieta

Na onda de ser feminina, resolvi que já era mais do que hora de reconhecer: eu estou acima do peso. Acho que não há mulher no mundo que não tenha passado por isso, e eu, até então, achava que nóia de calorias era coisa de “mulherzinha”.

Acontece que a mulherzinha aqui não está nada satisfeita com o que tem sobrado pra fora da calça. Super okei, talvez algumas pessoas diriam que eu não estou sendo feminina, e sim que estou tendo transtorno dismórfico corporal. Ta, eu sei que não tô uma bola, mas já que é pra me dar o direito de reclamar mesmo sem ter um boooom motivo (como toda mulher faz), resolvi seguir à risca o Manual da Mulherzinha Moderna e decidi enfrentar uma dieta.

Isso significa, basicamente, que o meu maior prazer atual está na berlinda: nada mais de chocolates, assaltos à geladeira na madrugada, pizza no sábado seguida de sanduba no domingo. Minhas manhãs de folga foram dilaceradas por corridinhas matutinas. E, como toda boa mulherzinha, eu estabeleci uma meta super irreal e pretendo, até o feriado de 7 de setembro, estar 6kg mais fina. Rá, rá, rá. Tá bom, divide por dois.

O regime começou na segunda-feira (óbvio) e dois dias depois já estou sofrendo. O mau-humor é tremendo. A vida me parece sombria. Sinto falta de um chocolate, de uma cerveja, de uma puta pizza de abobrinha. Agrião, que eu amo, nunca me pareceu tão insosso. Qualquer coisa que eu veja me lembra comida.

Praia? X-salada.
Trabalho? Pão de queijo.
Balada? Brigadeiro.
Kickboxing? Doritos.
Dança do Ventre? Esfiha!

Temo estar entrando em depressão, o que aumenta meu apetite.

Mas é isso aí, a vida é feita de frustrações e eu (acho que) sou uma mulher madura, não uma adolescente sem curvas. No pain, no gain! Engole o choro e barriga pra dentro, peito estufado e esmalte vermelho nas unhas - ser mulher é um cu, com o perdão da palavra.

domingo, julho 26, 2009

Anedonia


Quanto mais vivemos, dia após dia, mais vamos nos dando conta de que toda a nossa existência é apenas e tão somente a ligação entre diversos pontos que, reunidos, formam a figura de nossas vidas.

Cada ponto, um determinado tipo de problema que vai nos orientando ao longo do tempo, dando conta de nos mostrar do que afinal a vida diz realmente a respeito: quando pequenos, a fome insaciável ou um medo do abandono dos pais; crescemos e os dias são a sucessão interminável de dias na escola em que professores autoritários tratam de nos aterrorizar, nossa vida se resume a dar conta das provas, aulas de inglês ou natação, sermos boas crianças e isso jamais ser o suficiente; quando adolescentes nossa vida é uma droga, queremos encher a cara, fumar maconha e mandar nossos pais à merda, nossos pais que são os responsáveis pela nossa vida ser um inferno, nossos pais que nos obrigam a estudar, acordar cedo, nossos pais que não nos entendem e querem nos ver sofrer. Jamais entendemos que um dia as provas irão acabar e todos os hormônios irão assentar, nós desejamos a morte do mundo e todas as pessoas mais velhas nos parecem patéticas.

Se entramos na faculdade, os trabalhos e provas tratam de nos deixar extenuados; se não estudamos e vivemos para trabalhar, a vida é uma merda em que temos que sobreviver dia após dia. Crescemos e os conflitos básicos todos se parecem, temos que trabalhar para poder comer, para poder vestir, para poder se divertir. A semana é um sacrifício sem fim rumo ao sábado e domingo, que é quando a vida acontece de verdade e nós nos estragamos por dentro e por fora, tomando porres homéricos, usando drogas de péssima qualidade, dormindo pouco para sentir que estamos vivendo o bastante, no domingo a ressaca nos massacra, pra depois sermos punidos como uma nova e terrível segunda-feira.

Às vezes gostamos do que fazemos, mas isso não é o suficiente porque o compromisso diário nos oprime; às vezes detestamos nosso trabalho mas não temos alternativas, continuamos a ser manipulados por chefes, supervisores, orientadores, pseudo-parceiros de jornada que botam no nosso rabo todas as manhãs.

Quando não somos rejeitados, arrumamos um parceiro amoroso que vai levar a culpa por todos os nossos fracassos anteriores, o parceiro que um dia pensaremos em trair, que eventualmente nos trairá, mas um dia percebemos que é melhor assentar com ele mesmo e tratarmos de termos filhos. Os problemas então se transformam, viram fraldas, merda, mijo, vômito, choro, sarampo. É o preço da babá ou da escolinha em que tudo o que vai acontecer é que nossos bebês irão conhecer outros bebês.

Mais tarde seremos xingados de autoritários como um dia fizemos com nossos pais, teremos praticamente vendido a alma e dado a bunda por uns pirralhos que se acham maduros o suficiente para fumar maconha enquanto acham que não estamos olhando; um dia eles arrumam um trabalho, mas não pagam uma única conta, saem de casa e reclamam que estamos com mania de doença. De nada adianta explicar que tememos a morte. São jovens demais para entender. Um dia terão seus filhos, terão laços de sangue muito mais fortes do que conosco, as visitas se resumirão a uma ou duas vezes por mês.

Quanto mais velhos ficamos, mais saudades sentimos dos tempos em que éramos jovens, que corríamos rápido e não sabíamos, estudávamos para as provas e seríamos aprovados, reclamávamos do chefe que jamais faria qualquer diferença em nosso futuro, mimávamos nossos bebês que nos abandonariam. Nada nunca importou. Um dia nos damos conta de que o grande quadro de pontilhismo de nossa vida formou um desenho que jamais veremos – ficará para trás, para aqueles que vivem e que contam histórias a nosso respeito, histórias em que fomos heróis, em que fomos pais amorosos, adolescentes especiais, crianças teimosas, bebês barulhentos.

Um dia nos damos conta de que tudo se foi sem que percebêssemos, aprisionados que estávamos no piloto automático do nosso cotidiano. E um dia. Um dia, enfim. O Dia. O Fim.

quinta-feira, julho 23, 2009

So I think I can dance!!




Bom, então a história assim segue: meus experimentos continuam e, na busca de despertar a minha Deusa interior, resolvi fazer aulas de... DANÇA DO VENTRE!

Desde a época do Clone eu sempre pirei na idéia de conseguir mexer o quadril daquele jeito doido. Até hoje não entendo: como pode uma pessoa ter a bunda tão separada assim do resto do corpo?

A idéia foi deixada de lado porque eu queria ser do contra e não participar da modinha que acometeu o país depois da novela. Eu ainda era uma adolescente imbecil. Mas hoje, 7 anos depois, eu já não encontro mais nenhuma boa razão pra não ir logo dançar e assim fazer as pazes com a minha Neusa interior, digo, Deusa.

Assim, mais obstinada do que nunca, passei toda a minha tarde de quarta-feira enfiada em sites, ligando para escolas, enviando emails para professoras. A pesquisa árdua gerou bons resultados e hoje mesmo vou conhecer uma escola em Santana. Semana que vem, eu e uma amiga querida iremos conhecer outro estúdio de dança, e assim, fazendo juntas, quem sabe esse investimento na minha feminilidade fique um pouco menos assustador?

Dançar é o máximo e eu estou obcecada por assistir vídeos de Dança do Ventre no Youtube. É tudo de bom. Dançando assim, não vai ter como minha Neura Interior não acordar. Digo, Deusa.

Ya Habib!!!

PS: Outra possibilidade é formar um grupo pra termos aulas particulares. Alguém interessada?

PS2: A dançarina do vídeo é a Laís Jardim, em apresentação na casa de chá Khan El Khalili.

segunda-feira, julho 20, 2009

...sin perder la ternura jamás...

As Leis Gerais do Comportamento afirmam há décadas: o ser humano se norteia, em suas atitudes, através das conseqüências. Em linhas gerais, isso é bem fácil de entender: se você se dá bem após fazer algo, é bem provável que faça esse algo novamente. Se você se deu mal, provavelmente não irá mais fazer a mesma coisa.

Essa relação entre comportamento e conseqüência se expande para além do nosso cotidiano – abrange sentimentos, pensamentos, fantasias. E é exatamente com base nesta linha de raciocínio que eu cheguei a uma triste conclusão: eu extingui meu hábito de fantasiar.

Ficar sonhando acordada sempre foi o que definiu a maioria dos piscianos que, como eu, esquecem de viver a vida real. Comigo, o processo se inverteu: eu simplesmente não consigo mais fantasiar quando o assunto em questão são os relacionamentos afetivos. A questão é que eu já tomei tanto na testa, já tive tantas conseqüências negativas após fazer mil fantasias sobre algo ou alguém, que esse meu comportamento acabou soterrado embaixo de um monte de mágoas que não me ajudam em absolutamente nada nesta vida. Mas eu simplesmente não concebo mais a idéia de engolir a seco fantasias e planos para o futuro.

É claro que todo mundo se fode uma vez ou outra, e eu nunca fui do tipo coitadinha-de-mim. Para mim é muito claro que eu sou diretamente responsável pela minha vida afetiva ter se tornado um vazio absoluto. Não ouso culpar os parceiros bola-da-vez, embora um ou outro tenha agido de maneira vergonhosa comigo – não, nenhum deles é culpado por eu ter reduzido a zero meus contatos amorosos.

A questão é: meu comportamento feminino foi tão “punido” (no sentido de ter sido consequenciado negativamente) que essa minha faceta simplesmente ficou lá pra trás, muito muito depois da Nana psicóloga, da Nana lutadora, da Nana amiga, irmã, filha, vizinha, consumidora de padaria ou cliente de salões de cabeleireiro. A Nana-Mulher, a que ama, que fantasia, que sonha e que deseja ficou simplesmente fora do jogo.

Segundo minha(s) terapeuta(s), essa é a hora em que eu devo finalmente acordá-la. Ok, o sono foi bom e necessário, muitas outras coisas ocuparam minha atenção durante este tempo, e está finalmente na hora desta questão voltar a fazer parte da minha agenda mental de compromissos comigo mesma: eu preciso voltar a sonhar. Porque como já dizia o Monteiro Lobato, tudo no começo é sonho ou loucura. Sem sonho não há vida.

Parte desta difícil tarefa tem consistido em eu praticar (sim, assim, no duro) o ato de flertar. Eu sei o quanto soa ridículo, mas pra mim uma simples paquerinha de balada é um verdadeiro martírio. Eu nunca sei o que fazer, o que dizer, pra onde olhar. Eu costumo me sentir patética e me torno imediatamente um poço de ansiedade. E é exatamente por isso que, em qualquer contexto que eu esteja, é sempre mais fácil virar amiga dos caras em vez de me colocar como mulher – é praticamente impossível ser rejeitada quando se exerce o papel de amiga. E é desta mesma forma que eu, automaticamente, me mantive fora do jogo amoroso durante aproximadamente dois anos.

É claro que houve um evento marcante (pra quem se perguntou: “o que houve dois anos atrás?”). Uma mega desilusão amorosa, atrelada a um transtorno de ansiedade bem foda, tratou de empurrar pros fundos da minha dignidade quase todos os meus traços românticos. E é fato que, depois daí, eu simplesmente criei amizades coloridas com romance zero – 0% de exposição, 0% de risco.

Mas tudo na vida se resume ao desafio que é saber quando se está atravessando aquela linha tênue que divide a auto-preservação do auto-boicote. Isso vale pro amor, pros empregos, pras famílias. Também é uma atitude de sabedoria saber parar de se esquivar de possíveis e hipotéticas conseqüências negativas, e se arriscar um pouco nas coisas. Como já dizia o Grande, hay que endurecer, però sin perder la ternura.

Este “se arriscar” pode até ser lido como “dar mole por aí só pra treinar ser mulherzinha de novo”. É claro que não é assim tão diretivo nem assim tão aberto. Mas é verdade que eu tenho tido bons resultados com meus “experimentos” – minha vida, digamos, “afetiva” tem ganhado algum movimento (mesmo que o “afeto” em questão tenha se resumido a um pegapracapá com um gatenho da outra academia), e é nessas e em outras que a velha e boa mulher que eu sou tem ganhado, lentamente, um pouco mais se espaço aqui dentro.

Continuo me sentindo gelada no que se refere ao amor e à paixão, e minha vontade de me relacionar enfrenta grandes resistências oferecidas pela minha eterna desconfiança. Ainda não consigo fantasiar coisinhas bonitinhas sobre alguém, mesmo depois de ganhar chocolates, receber ligações, mensagens fofas ou coisas do tipo.

Continuo recusando convites para sair e minha disposição em sair “flertando” arrisca a se reduzir a quase zero – eu vou forçando um pouco a barra. Se tornou extremamente difícil reativar meu comportamento de ser simplesmente mulher, mas a crença de que isso será possível novamente me mantém em movimento.

Por via das dúvidas, meus antigos planos de aprender dança do ventre estão sendo reavaliados. Tenho certeza que isso é algo que vai me ajudar a, como diz uma querida, “despertar a minha Deusa interior” – tem coisa mais feminina do que dança do ventre (além de celulite)?

Eu sei que tudo isso parece um pouco piegas e um tanto quanto melodramático. Afinal eu tenho apenas e tão somente 26 anos, ainda estou em idade altamente reprodutiva, tenho saúde e o mundo lá fora é grande demais pra eu dar por finalizada minha busca por uma história realmente legal pra viver.

Eu sei que sou um pouco trágica e que tenho tendência para as grandes cenas. E apesar de saber de tudo isso eu ainda procuro me entender e ouso encerrar a questão: quem nunca teve medo de sofrer que atire a primeira pedra, ou então que me ajude.

quarta-feira, julho 15, 2009

Como uma vaca na índia

A vida por aqui tem passado tão lentamente que, como diz a música, a gente quase que não sente.
A verdade é que a inércia me pegou: minha caixa de entrada da UOL está com 127 msgs que não tenho a menor disposição de ler, meu telefone tem várias ligações não atendidas (e não retornadas), meu Projeto Corrida 2009 não emplacou, não meditei nem um dia sequer. Bebi cerveja o findi todo. Não terminei meu livro e de quebra, comecei mais dois. Continuo chocólatra as usual. Não visitei praticamente nenhum amigo ilhéu e assim, exatamente assim como a coisa está, tá bão demais.
O tempo chuvoso não me incomoda - após as tempestades do fim de semana, tivemos dois belíssimos dias de sol (tão belos que resolvi esquecer o protetor solar e estou parecendo uma salsicha alemã de tão vermelha). A previsão continua sendo de vento forte, a ponto de não dar nem pra ficar de biquininho na praia. Humpf.
As meninas-caninas estão mais pentelhas do que nunca e isso nunca me incomodou tão pouco. Devo admitir: estou tão sossegada quando um pernilongo pousado num tetraplégico.
No momento, a lan-house está cheia de crianças meio gosmentas e isso também não me incomoda. Eu tenho apenas 2 minutos de internet e isso nunca foi tão super ok!
Ritmo de Brasil Grande: devagar, quase parando :)

quarta-feira, julho 08, 2009

De férias do divã


Tem gente que pensa que ser psicóloga é ter a profissão mais sussa do universo. Afinal, basta se sentar na frente de alguém, fazer cara de paisagem e escutar durante 50 minutos os problemas alheios, para depois receber milhares de dólares sem qualquer esforço.

Como diz uma amiga minha, “lei do engano, darling”. Pode não parecer, mas ser psicólogo é como padecer no paraíso – como fazer as pessoas finalmente se enxergarem como deveriam? Como mostrar para alguém algo que está bem na sua cara, mas oculto pelo véu das ilusões? Como instrumentalizar professores super bem-intencionados a lidar melhor com seus alunos de inclusão sem parecer intrometida? Como fazer uma mãe superprotetora entender que seu pequeno filhinho pré-adolescente precisa aprender a ir ao banheiro sozinho?

Estas e outras questões tão pesadas quanto estão presentes na maior parte dos meus dias. Ser psicóloga é hiper gratificante, pois não tem sensação no mundo igual a você ver um ser humano aprender a ser mais feliz. É tudo de bom, mas é super ultra mega max giga jam cansativo. Mentalmente, é extenuante.

E é por isso que, quando chega julho, eu quase entro em mania de tão feliz: meus pacientinhos entram em férias escolares e eu finalmente posso descansar um cadim. Sincronizar a agenda com os pacientes do consultório geralmente é um trabalho árduo – mas eu finalmente consegui e a partir deste feriado já entro em recesso “escolar”.

Sem viagens fantásticas (apesar de ter sido a idéia inicial) – apenas 10 deliciosos e idílicos dias na praia na companhia da minha família, de amigos e das Meninas-Caninas. Não interessa se vai fazer sol; o mar gelado não me preocupa nem um pouco; o vento absurdo típico da Ilha em mês de julho não é nenhum problema: tudo o que eu quero é ESVAZIAR A MENTE.

Meditação, corrida, escrita, leitura, sono, gastronomia, risada, conversa... e, plis Universo, o mínimo de problemas possível. De preferência, adoraria poder ficar em silêncio os 10 dias (impossível, considerando a mistura Mamis + Landão + Ires + Pati + ilhéus diversos).

Então eu deixo o silêncio pro próximo Carnaval e saio neste feriado tirando férias de tudo: de pacientes, de escolas, de mães difíceis, de gatinhos indecisos, do ringue, de uma parte da família, de amigos, da(s) minha(s) própria(s) terapia(s) e quiçá de mim mesma. Abandono aqui minhas vestes de psicóloga, minhas luvas de kickboxer, minha fala diplomática e meu saquinho murcho de Jó.

Eventuais posts poderão ser avistados. Meus amigos blogueiros, bom feriado a todos. Eu peço uma coisa só: se em 10 dias eu não estiver de volta... por favor, me deixem por lá!

terça-feira, julho 07, 2009

Transformers!


Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência!

domingo, julho 05, 2009

fora da linha


Acordo lentamente com a cabeça pesada. A memória falha em resgatar certos detalhes do episódio. A boca está grudando, os olhos secos como carpete. A garganta arranha. O corpo dói e me ressinto – tudo outra vez.

Desta vez não houveram culpados, a não ser a consciência. Nada foi errado, exceto a abordagem. Nada de arrependimentos, não fosse a vontade de hoje de jamais ter estado lá. Acolho os flashes de lembranças tendo consciência de que algo foi perdido – a inocência e a ingenuidade deste reencontro, de outros, de tantos que jamais existiram. A sensação de que fugi da proposta inicial se revela aterradora.

Como se desta forma nós jamais tivesse tentado, abandono qualquer outra tentativa de merecimento. Falhei em tentar caminhar sobre o espectro cinza que existe entre o branco e o preto, entre o coração e a mente, entre o espírito e a carne. Me entreguei entre os extremos opostos. Naquele momento nenhuma virtude habitava meu corpo, a não ser a certeza inabalável de que, apesar de profundamente errado, não havia nada demais em simplesmente tentar ser eu mesma novamente.

sexta-feira, julho 03, 2009

Ou Tudo ou Nada?

Hoje na Mundo Mundano.


Todo mundo que gosta de escrever sabe: tem épocas em que simplesmente não sai. Sentamos na frente dos PCs, agarramos papel e caneta, praticamente fundimos a cabeça e o resultado continua o mesmo: a folha continua em branco, apesar da mente fervilhar em idéias.

Ando nestas fases. A coisa simplesmente não funciona. Antigamente, eu me sentia frustrada. Hoje em dia, me pego atenta a estes momentos e percebo coisas impressionantes em meio a este vazio. Pouco a pouco, reflexão a reflexão, começo a chegar à conclusão de que é justamente no vazio que tenho a maior sensação de plenitude que eu poderia experimentar.

Essa idéia do “vazio-e-cheio” sempre me encantou. É verdade que eu costumava me sentir desconfortável com a idéia do Nada, enquanto que o Tudo me acolhia. Afinal, sempre ouvimos por aí que o legal é ter tudo, que não ter nada é ser mal-sucedido. Somos condicionados a ter a mentalidade do mais, da ação, da quantidade, do preenchimento. O nada, o menos, a não-ação, o menor parecem sempre negativos. Com mais freqüência do que talvez eu gostaria, ouço meus pacientes dizerem-se “no nada”, ou “vazios”, com a maior das aflições.

Mas a verdade é que existe neste “nada” uma idéia reconfortante e capaz de amenizar estas angústias: se o que existe é o Nada, então Tudo pode ser feito. Qualquer coisa! É uma idéia bastante lógica, embora possa ser difícil apreender este conceito num primeiro momento: menos pode, de fato, ser mais.

A idéia da página em branco possibilita uma imagem – uma folha em branco é ilimitada e infinita, e milhares e milhares de possibilidades de escrita, desenhos, garranchos ali estão em potencial. Se quando temos Tudo, o vazio está plenamente preenchido, fato é que Nada mais pode ser feito – a folha está escrita, a pauta está fechada, esgotaram-se as linhas. É aquilo ali e pronto, aquele tudo, completo, cheio, limitado te dizendo: “conforme-se”.

Já o nada é o espaço em potencial necessário para todas as realizações tomarem forma; são todas as coisas existindo ao mesmo tempo, indefinidas, inexatas. A vantagem de não se ter nada é justamente poder começar tudo de novo, ilimitadamente, sem nenhum tipo de restrição. Como num vaso vazio, onde em sua terra fértil podem ser plantados quaisquer tipos de sementes.

É verdade que estar no nada pode ser, a princípio, bastante desconfortável e desolador, e que se pode experimentar alguma sensação de perda de referencial. Mas se for possível tolerar o sentimento de ansiedade e visualizar, em meio à crise, uma nova oportunidade, então também haverá a chance de experimentar, como de nenhuma outra maneira seria possível, toda possibilidade de escolha – e esse tipo de escolha é exatamente o que define alguém, a escolha de quem não tem absolutamente nada a perder. É a escolha da liberdade.

No que se refere a este texto, experimento uma certa mistura de sentimentos após ver esboçada a reflexão. É que uma parte de mim gosta de ver a página finalmente cheia, mas outra se ressente com a minha ousadia de encerrar assim a questão, limitando o tema como se nada mais houvesse a dizer. Minha mente continua a fervilhar a respeito, e receio que o assunto seja muito mais extenso, filosófico e pirante do que aqui humildemente tencionei expressar. Tento então mostrar alguma humildade, mas também manter a ousadia de com o fim do texto questionar se, afinal de contas, todo fim também não seria um recomeço...